|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
É manipulação
SÃO PAULO - A tática (desconstruir o adversário) parece ser a mesma que a
campanha José Serra adotou, com
êxito aliás, contra Ciro Gomes.
Mas uma das duas salvas disparadas anteontem contra o PT muda de
qualidade e invade o território da
manipulação.
No caso de Ciro, o tucanato usou
palavras do próprio adversário no
contexto em que foram pronunciadas. Fisgou Ciro pela boca.
Mas, no caso do programa de terça-feira, a vida real foi reescrita para caber na propaganda contra o PT.
Refiro-me à exibição do discurso do
presidente do PT, deputado José Dirceu, aos professores em greve, no qual
fala em bater nas urnas e nas ruas o
tucanato, seguido pelas cenas da
agressão de professores ao então governador Mário Covas.
O próprio Serra chegou a dizer que,
"provavelmente", José Dirceu não foi
o responsável pela agressão a Covas.
É evidente que não houve relação de
causa e efeito entre discurso e agressão. Ela ocorreu porque Covas foi a
um ponto de concentração de grevistas, valendo-se do inalienável direito
de ir e vir, e acabou sofrendo agressão
absolutamente injustificável.
Daí, no entanto, a colar discurso e
agressão como cara e coroa da mesma moeda é manipulação.
Há no PSDB quem até justifique esse tipo de apelação grosseira com o
argumento de que seja a única maneira de derrubar Lula do pedestal
olímpico em que se instalou.
Não é eticamente aceitável (como
não é aceitável, de resto, que o PT se
omita sobre a tentativa, também sórdida, de envolver Serra em um caso
de corrupção mesmo tendo o procurador responsável pela denúncia afirmado que não há prova nenhuma
contra o candidato tucano).
Quem imaginou que um segundo
turno entre Lula e Serra seria o definitivo diploma de modernidade para
a política brasileira pode começar a
rever os seus conceitos.
Texto Anterior: Editoriais: ENTRE CÃES E HOMENS
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Fênix e cinzas Índice
|