São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

A hora da troca

RIO DE JANEIRO - Estamos chegando à reta final das eleições, e continuo entediado com elas. E acho que não estou sozinho nesse tédio. Leio por aí que são muitos, são legião os que ainda não se entusiasmaram pelos candidatos, quer os majoritários, quer os minoritários.
Há exceções, eleitores comprometidos por isso ou por aquilo com determinado candidato. É evidente que, se tivesse um primo chegado, um amigo muito querido disputando uma cadeira na Assembléia estadual, na Câmara Federal ou no Senado, eu teria bons motivos para votar nele. Na realidade, tenho amigos nessa situação e pretendo votar por amizade, por admiração ou seja lá o que for.
Mas a eleição que interessa, a presidencial, me parece morna e, apesar do espaço que os veículos da mídia estão dando aos interessados, alguma coisa não pegou ainda. Há entusiastas de uns e de outros, mas me parecem poucos, a maioria do eleitorado permanece em cima do muro, esperando um fato novo, um dado inesperado para decidir.
No início do ano, quis trocar de carro e, durante duas ou três semanas, fiquei observando os automóveis que via passar pelas ruas. Não vi nenhuma Ferrari, nenhum Rolls-Royce, nenhum carro feito a mão, aquele de Norma Desmond em "Crepúsculo dos Deuses". E, mesmo que visse, não teria dinheiro para comprá-los.
O que vi, a oferta visual que desfilou pelas ruas era quase indiferente, nenhuma me encantava, nenhuma me repugnava. Quando tive de decidir, dei preferência pela loja mais perto e pelo saldo bancário que tinha no momento. Acho que fiquei bem servido, mas, sinceramente, não tive nenhum orgasmo por ter trocado de carro.
Não temos nenhum Rolls-Royce, nenhuma Ferrari no páreo presidencial. O que temos de oferta é o trivial variado. Todos devem andar e, se não andarem, tem gente bastante para empurrá-los. O problema é esse: empurrá-los para onde?


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Fênix e cinzas
Próximo Texto: Otavio Frias Filho: Bem x Mal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.