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CARLOS HEITOR CONY
A hora da troca
RIO DE JANEIRO - Estamos chegando à reta final das eleições, e continuo
entediado com elas. E acho que não
estou sozinho nesse tédio. Leio por aí
que são muitos, são legião os que ainda não se entusiasmaram pelos candidatos, quer os majoritários, quer os
minoritários.
Há exceções, eleitores comprometidos por isso ou por aquilo com determinado candidato. É evidente que, se
tivesse um primo chegado, um amigo
muito querido disputando uma cadeira na Assembléia estadual, na Câmara Federal ou no Senado, eu teria
bons motivos para votar nele. Na realidade, tenho amigos nessa situação e
pretendo votar por amizade, por admiração ou seja lá o que for.
Mas a eleição que interessa, a presidencial, me parece morna e, apesar
do espaço que os veículos da mídia
estão dando aos interessados, alguma coisa não pegou ainda. Há entusiastas de uns e de outros, mas me parecem poucos, a maioria do eleitorado permanece em cima do muro, esperando um fato novo, um dado
inesperado para decidir.
No início do ano, quis trocar de carro e, durante duas ou três semanas,
fiquei observando os automóveis que
via passar pelas ruas. Não vi nenhuma Ferrari, nenhum Rolls-Royce, nenhum carro feito a mão, aquele de
Norma Desmond em "Crepúsculo
dos Deuses". E, mesmo que visse, não
teria dinheiro para comprá-los.
O que vi, a oferta visual que desfilou pelas ruas era quase indiferente,
nenhuma me encantava, nenhuma
me repugnava. Quando tive de decidir, dei preferência pela loja mais
perto e pelo saldo bancário que tinha
no momento. Acho que fiquei bem
servido, mas, sinceramente, não tive
nenhum orgasmo por ter trocado de
carro.
Não temos nenhum Rolls-Royce,
nenhuma Ferrari no páreo presidencial. O que temos de oferta é o trivial
variado. Todos devem andar e, se
não andarem, tem gente bastante para empurrá-los. O problema é esse:
empurrá-los para onde?
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