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ELIANE CANTANHÊDE
Sem choro nem vela
BRASÍLIA - O Fome Zero foi evaporando, evaporando e... evaporou! Só
falta saber, agora, qual o destino do
ministro José Graziano e quando
vem aí o Bolsa-Família.
O Fome Zero perdeu credibilidade
dentro e fora do governo, 77% das
suas verbas e o carimbo de "prioridade", que migrou para o Bolsa-Família, nome marqueteiro da unificação
das bolsas isso e aquilo. Tudo o que
sobrou do Fome Zero é um selinho
num canto qualquer da propaganda
do seu sucessor.
Acaba um problema e começa outro: sai o Fome Zero e não entra o
Bolsa-Família. O lançamento seria
hoje. Foi adiado, primeiro, para 30/9
e, agora, só Deus sabe para quando.
A versão oficial é que Lula quis dividir o bônus político com os governadores, neutralizando as divergências na reforma tributária. A extra-oficial, bem mais apimentada, é que
o pau está quebrando e faltou humildade entre os ministros para assimilar a nova prioridade -que, aliás,
vai ser coordenada por uma técnica,
a poderosa Ana Fonseca.
Quem mais perde com o não-lançamento do programa é Lula, que iria
apresentá-lo no discurso de abertura
da assembléia geral da ONU, na terça que vem, em Nova York, como a
grande prova do empenho social de
seu governo. A prova não existe.
Além disso, o Planalto vai ter de
convidar o presidente da Internacional Socialista, ex-primeiro ministro
português António Guterres, e o representante da ONU no Brasil, Carlos Lopes, para conhecerem a nova
versão do programa. A que eles viram no dia 3, com pompa, circunstância e uma penca de ministros, já
não vale.
É assim que, de prioridade em prioridade, o governo vai deixando a
África para depois, não prestigia o
lançamento do Brasil Alfabetizado,
de Cristovam Buarque, enterra o Fome Zero e adia sem prazo o anúncio
da unificação dos programas sociais.
Gênios da área de comunicação do
governo desqualificavam os críticos
de Graziano e do Fome Zero como
"viúvas tucanas". E agora? Será Lula,
também ele, uma viúva tucana?
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