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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Sem choro nem vela

BRASÍLIA - O Fome Zero foi evaporando, evaporando e... evaporou! Só falta saber, agora, qual o destino do ministro José Graziano e quando vem aí o Bolsa-Família.
O Fome Zero perdeu credibilidade dentro e fora do governo, 77% das suas verbas e o carimbo de "prioridade", que migrou para o Bolsa-Família, nome marqueteiro da unificação das bolsas isso e aquilo. Tudo o que sobrou do Fome Zero é um selinho num canto qualquer da propaganda do seu sucessor.
Acaba um problema e começa outro: sai o Fome Zero e não entra o Bolsa-Família. O lançamento seria hoje. Foi adiado, primeiro, para 30/9 e, agora, só Deus sabe para quando.
A versão oficial é que Lula quis dividir o bônus político com os governadores, neutralizando as divergências na reforma tributária. A extra-oficial, bem mais apimentada, é que o pau está quebrando e faltou humildade entre os ministros para assimilar a nova prioridade -que, aliás, vai ser coordenada por uma técnica, a poderosa Ana Fonseca.
Quem mais perde com o não-lançamento do programa é Lula, que iria apresentá-lo no discurso de abertura da assembléia geral da ONU, na terça que vem, em Nova York, como a grande prova do empenho social de seu governo. A prova não existe.
Além disso, o Planalto vai ter de convidar o presidente da Internacional Socialista, ex-primeiro ministro português António Guterres, e o representante da ONU no Brasil, Carlos Lopes, para conhecerem a nova versão do programa. A que eles viram no dia 3, com pompa, circunstância e uma penca de ministros, já não vale.
É assim que, de prioridade em prioridade, o governo vai deixando a África para depois, não prestigia o lançamento do Brasil Alfabetizado, de Cristovam Buarque, enterra o Fome Zero e adia sem prazo o anúncio da unificação dos programas sociais.
Gênios da área de comunicação do governo desqualificavam os críticos de Graziano e do Fome Zero como "viúvas tucanas". E agora? Será Lula, também ele, uma viúva tucana?


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