São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Confissões

SÃO PAULO - Convido o leitor a revisitar duas frases publicadas recentemente por esta Folha.
A primeira saiu ontem, de autoria de João Lagoeiro Barbará, da construtora Concórdia, para rebater acusações de corrupção às empreiteiras, feitas pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE):
"Não temos alternativas. Somos obrigados a praticar o suborno sob pena de não poder executar as obras".
Lagoeiro dizia que a corrupção (ou suborno) se torna obrigatória quando os governos não cumprem os contratos assinados, pagam com atraso e, ainda por cima, cobram eventualmente das empresas para efetuar o pagamento.
Tem-se aí um claro mecanismo de extorsão e chantagem posto em prática por agentes do poder público, mas do qual as empresas se tornam cúmplices ao aceitar o esquema sem jamais denunciá-lo. Podem até alegar, em sua defesa, que, se denunciarem, jamais obterão qualquer outra obra pública, mas o silêncio e a conivência só eternizam o sistema.
No domingo passado, saiu a outra frase, esta do secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno, e diz respeito à situação financeira do partido conforme ele esteja ou não no poder nas cidades.
"As cidades em que o PT está no governo são as que têm as situações financeiras mais tranqüilas (para as finanças da campanha eleitoral), porque estabeleceu uma relação com essa parte da sociedade que contribui mais em campanha", afirmou Sereno, que, até maio, operava no governo federal a distribuição de cargos e nomeações partidárias.
Por que será que, nas cidades em que está no poder, é tão azeitada a relação do PT "com essa parte da sociedade que contribui mais em campanha"? Será que o ardor cívico deles só se sente estimulado quando o PT está no poder?
Enfim, são frases auto-explicativas. E são um retrato do Brasil, o Brasil de sempre e de verdade.


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