São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Brasil-Escandinávia: parceria ambiciosa

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

A viagem à Escandinávia aprofundou a parceria do Brasil com uma região que é sócia em negociações internacionais estratégicas

NA ÚLTIMA semana, viajei à Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega. Foi a primeira vez que um presidente do Brasil esteve oficialmente na Escandinávia. Pude, assim, retribuir as visitas que os líderes de todos esses países fizeram ao Brasil.
A viagem aprofundou a parceria do Brasil com uma região que é sócia em negociações internacionais estratégicas. Uma relação que não é de hoje.
Empresários desses países investem aqui desde a chegada dos primeiros imigrantes escandinavos, há um século. São centenas de empresas que atuam em diversos setores, gerando empregos e reforçando a competitividade tecnológica do Brasil.
Isso explica por que São Paulo é um dos maiores parques industriais da Suécia. A Nokia, da Finlândia, fez do Brasil plataforma mundial para a produção de celulares. E a Noruega -segundo me informaram- investe no Brasil mais do que na China.
As potencialidades dessas relações se refletem no crescimento do comércio. Com a Suécia, atingiu US$ 1,5 bilhão em 2006. No caso de Finlândia e Noruega, mais do que dobrou desde 2003. Podemos fazer mais.
O ciclo de desenvolvimento sustentável e duradouro por que passa o Brasil abre novos horizontes. Temos um mercado em franca expansão, graças ao aumento da massa salarial e a uma economia sólida e estabilizada, que reagiu de forma serena à recente instabilidade dos mercados financeiros internacionais.
O PAC tem tudo para atrair nova onda de investimentos escandinavos.
A prioridade que atribui à ampliação da infra-estrutura logística e energética oferece excelente oportunidade para capitais e tecnologia dos países nórdicos. O entusiasmo que percebi nessa viagem reforça minha confiança no futuro. Um futuro que começa com a revolução dos biocombustíveis.
Os escandinavos são conhecidos por seu engajamento em temas ambientais. Sabem da urgência de encontrarmos alternativas energéticas renováveis, limpas e eficientes para as fontes fósseis.
Por isso, querem conhecer nossa experiência pioneira com biocombustíveis. Sabem que, no Brasil, o etanol ajuda a combater, a um tempo, a escassez do petróleo e o aquecimento global: reduzimos em 40% nosso consumo de gasolina e deixamos de emitir, desde 2003, 120 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente.
Os milhões de postos de trabalho que estão sendo criados demonstram como os combustíveis verdes podem favorecer o desenvolvimento sustentável de todo o mundo, sobretudo nas regiões mais pobres da América Latina, do Caribe e da África.
Durante minha visita, o primeiro-ministro da Suécia -importante consumidor europeu de etanol- anunciou a eliminação da sobretaxa que impõe às importações do produto brasileiro. Trata-se de forte impulso para que a União Européia suprima também suas barreiras e favoreça a criação de um verdadeiro mercado global para o etanol.
Os países nórdicos também são nossos aliados na luta para eliminar os subsídios europeus que distorcem o comércio agrícola internacional.
Estamos cooperando na pesquisa da próxima etapa nessa revolução energética: o etanol celulósico. Buscamos parcerias para desenvolver enzimas para produzir etanol a partir do bagaço da cana. Com a Dinamarca, vamos cooperar em energias renováveis, inclusive a eólica. Com a Finlândia, firmamos acordo no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. E a Petrobras quer desenvolver com sua contraparte da Noruega projeto de prospecção de petróleo em águas profundas, setor em que detêm tecnologia de ponta.
Os países escandinavos sempre foram fonte de admiração e inspiração pelo seu modelo de bem-estar social e altíssimo índice de desenvolvimento humano. Sabem que a prosperidade econômica e a justiça social são o lastro maior da paz e da segurança.
Por essa razão, compartilhamos a convicção de que um multilateralismo robusto e representativo é fundamental para construir um mundo mais solidário. É por isso que a Noruega está ao lado do Brasil na missão de paz no Haiti e que a Finlândia anunciou, durante minha visita, apoio ao pleito do Brasil de integrar um Conselho de Segurança ampliado.
Estive na Escandinávia, quando era ainda sindicalista, por acreditar que as conquistas econômicas, políticas e sociais desses países muito tinham a oferecer ao Brasil. Volto, agora, presidente, com a convicção de que podemos consolidar uma parceria mais ambiciosa: garantir que a humanidade prospere como um todo, sem deixar ninguém para trás nem hipotecar o futuro das próximas gerações.


LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, 61, é o presidente da República Federativa do Brasil.

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