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TENDÊNCIAS/DEBATES
Brasil-Escandinávia: parceria ambiciosa
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
A viagem à Escandinávia aprofundou a parceria do Brasil com uma região que é sócia em negociações internacionais estratégicas
NA ÚLTIMA semana, viajei à
Finlândia, Suécia, Dinamarca
e Noruega. Foi a primeira vez
que um presidente do Brasil esteve
oficialmente na Escandinávia. Pude,
assim, retribuir as visitas que os líderes de todos esses países fizeram ao
Brasil.
A viagem aprofundou a parceria do
Brasil com uma região que é sócia em
negociações internacionais estratégicas. Uma relação que não é de hoje.
Empresários desses países investem
aqui desde a chegada dos primeiros
imigrantes escandinavos, há um século. São centenas de empresas que
atuam em diversos setores, gerando
empregos e reforçando a competitividade tecnológica do Brasil.
Isso explica por que São Paulo é um
dos maiores parques industriais da
Suécia. A Nokia, da Finlândia, fez do
Brasil plataforma mundial para a produção de celulares. E a Noruega -segundo me informaram- investe no
Brasil mais do que na China.
As potencialidades dessas relações
se refletem no crescimento do comércio. Com a Suécia, atingiu US$ 1,5
bilhão em 2006. No caso de Finlândia
e Noruega, mais do que dobrou desde
2003. Podemos fazer mais.
O ciclo de desenvolvimento sustentável e duradouro por que passa o
Brasil abre novos horizontes. Temos
um mercado em franca expansão,
graças ao aumento da massa salarial e
a uma economia sólida e estabilizada,
que reagiu de forma serena à recente
instabilidade dos mercados financeiros internacionais.
O PAC tem tudo para atrair nova
onda de investimentos escandinavos.
A prioridade que atribui à ampliação
da infra-estrutura logística e energética oferece excelente oportunidade
para capitais e tecnologia dos países
nórdicos. O entusiasmo que percebi
nessa viagem reforça minha confiança no futuro. Um futuro que começa
com a revolução dos biocombustíveis.
Os escandinavos são conhecidos
por seu engajamento em temas ambientais. Sabem da urgência de encontrarmos alternativas energéticas
renováveis, limpas e eficientes para as
fontes fósseis.
Por isso, querem conhecer nossa
experiência pioneira com biocombustíveis. Sabem que, no Brasil, o etanol ajuda a combater, a um tempo, a
escassez do petróleo e o aquecimento
global: reduzimos em 40% nosso consumo de gasolina e deixamos de emitir, desde 2003, 120 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente.
Os milhões de postos de trabalho
que estão sendo criados demonstram
como os combustíveis verdes podem
favorecer o desenvolvimento sustentável de todo o mundo, sobretudo nas
regiões mais pobres da América Latina, do Caribe e da África.
Durante minha visita, o primeiro-ministro da Suécia -importante consumidor europeu de etanol- anunciou a eliminação da sobretaxa que
impõe às importações do produto
brasileiro. Trata-se de forte impulso
para que a União Européia suprima
também suas barreiras e favoreça a
criação de um verdadeiro mercado
global para o etanol.
Os países nórdicos também são
nossos aliados na luta para eliminar
os subsídios europeus que distorcem
o comércio agrícola internacional.
Estamos cooperando na pesquisa
da próxima etapa nessa revolução
energética: o etanol celulósico. Buscamos parcerias para desenvolver enzimas para produzir etanol a partir do
bagaço da cana. Com a Dinamarca,
vamos cooperar em energias renováveis, inclusive a eólica. Com a Finlândia, firmamos acordo no âmbito do
Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo. E a Petrobras quer desenvolver com sua contraparte da Noruega
projeto de prospecção de petróleo em
águas profundas, setor em que detêm
tecnologia de ponta.
Os países escandinavos sempre foram fonte de admiração e inspiração
pelo seu modelo de bem-estar social e
altíssimo índice de desenvolvimento
humano. Sabem que a prosperidade
econômica e a justiça social são o lastro maior da paz e da segurança.
Por essa razão, compartilhamos a
convicção de que um multilateralismo robusto e representativo é fundamental para construir um mundo
mais solidário. É por isso que a Noruega está ao lado do Brasil na missão
de paz no Haiti e que a Finlândia
anunciou, durante minha visita,
apoio ao pleito do Brasil de integrar
um Conselho de Segurança ampliado.
Estive na Escandinávia, quando era
ainda sindicalista, por acreditar que
as conquistas econômicas, políticas e
sociais desses países muito tinham a
oferecer ao Brasil. Volto, agora, presidente, com a convicção de que podemos consolidar uma parceria mais
ambiciosa: garantir que a humanidade prospere como um todo, sem deixar ninguém para trás nem hipotecar
o futuro das próximas gerações.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, 61, é o presidente da República Federativa do Brasil.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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