São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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INCHAÇO PARTIDÁRIO

Os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) concernentes à filiação de militantes aos partidos políticos neste ano revelam uma realidade preocupante. A julgar pelas elevadas cifras enviadas ao órgão pelas diversas agremiações, cerca de 11,9 milhões de cidadãos estariam engajados nas fileiras das legendas existentes no país. Só o PMDB, por exemplo, conta oficialmente com 2 milhões de membros, embora haja no partido quem reconheça que apenas 40 mil realmente atuam.
Lamentavelmente, ao que tudo indica, esses números não se devem a um desejável aumento do interesse da população pela política. Conforme levantamento realizado por esta Folha no TSE, essa onda de militância é na realidade o resultado de procedimentos condenáveis, postos em marcha por políticos que almejam garantir votos nas convenções e conquistar mais influência nas decisões partidárias.
Com esses objetivos, muitos recorrem a expedientes tão criticáveis quanto conhecidos, que são facilitados pela ausência de controles. Contam-se, por exemplo, entre os filiados indivíduos que estariam legalmente impedidos de qualquer atividade partidária, tais como juízes e procuradores. Filiam-se também pessoas à sua revelia, que poderão ser substituídas por "laranjas" em processos fraudulentos. Por outro lado, caciques e aspirantes a líder recrutam eleitores "a laço" -nas palavras do secretário-executivo do PMDB, Saraiva Felipe (MG)-, buscando fortalecer sua expressão nas convenções partidárias.
O recurso a práticas como essas favorece apenas a consolidação de caciques e a formação de feudos, em detrimento de uma saudável democracia partidária e da própria representatividade das legendas. Seria desejável que os partidos políticos tomassem a iniciativa de criar mecanismos de controle e tornassem mais transparente o sistema de filiação, algo que, no entanto, parece distante de se tornar realidade.


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