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Reacomodação
Políticas públicas de Lula ajudam a explicar o seu favoritismo à reeleição, mas o modelo está no limite do insustentável
APESAR DE as duas primeiras pesquisas feitas
pelo Datafolha após o
primeiro turno já indicarem uma inversão de tendência na disputa presidencial, a escalada nas intenções de voto de
Luiz Inácio Lula da Silva apurada na sondagem mais recente
não deixou de surpreender. O
candidato à reeleição subiu quatro pontos percentuais em uma
semana, e sua vantagem sobre o
ex-governador Geraldo Alckmin,
desconsiderados os eleitores indecisos e aqueles dispostos a votar nulo ou em branco, ampliou-se de 12 para 20 pontos.
Se as eleições fossem hoje, o
tucano amealharia praticamente
a mesma fatia de escrutínios que
obteve em 1º de outubro, cerca
de 40% dos votos válidos. Lula,
que teve quase 49% no primeiro
turno, agora agrega a este patamar preferência comparável à
soma dos que, na primeira votação, optaram por Heloísa Helena
e Cristovam Buarque.
Confirma-se, em velocidade
impressionante, a correlação entre o favoritismo de Luiz Inácio
Lula da Silva e o distanciamento,
no tempo, dos desmandos éticos
ocorridos na gestão petista. A
reeleição só foi ameaçada, de
acordo com as pesquisas, no segundo semestre do ano passado
-crise do mensalão- e nas duas
semanas que antecederam o primeiro turno, com a eclosão do
chamado escândalo do dossiê.
Essa reacomodação do favoritismo do candidato do PT decerto foi incentivada por outros fatores. O factóide, disseminado
pelos petistas, sobre a "ameaça"
que a eleição de Alckmin representaria à Petrobras e ao Bolsa
Família parece ter sido eficaz como tática de campanha. Se não
logrou ampliar o apoio a Lula,
pelo menos enredou o seu adversário: há dias Alckmin vem consumindo grande parte de seu
tempo desmentindo que vá privatizar a estatal e cortar recursos
do programa social.
Há, porém, um fator menos
conjuntural nessa ampla preferência por Lula, que quase inercialmente se refaz tão logo esfria
o noticiário sobre falcatruas.
Mais de um ano de pesquisas
eleitorais ininterruptas deixa
clara a esmagadora popularidade
do presidente nas camadas de
renda mais diretamente beneficiadas por políticas públicas deslanchadas sob seu governo.
A inflação baixa (menor ainda
nos itens que mais pesam no orçamento da maioria da população), o forte reajuste do salário
mínimo, o Bolsa Família e outros
programas de transferência de
recursos parcial ou totalmente
subsidiados beneficiam dezenas
de milhões de brasileiros pobres
ou próximos da pobreza.
A opção dessa massa de eleitores por Lula, portanto, é racional
-bem como o são os seus movimentos de hesitação, associados
a desmandos gravíssimos sob a
esfera do petismo governista.
É uma pena, no entanto, que
nem a campanha de Lula nem a
de Alckmin estejam contribuindo para esclarecer o eleitor acerca dos limites desse modelo que
melhora o padrão de vida dos
mais pobres à custa do gasto público e da competitividade da
economia -prejudicada pelos
juros astronômicos e pelo câmbio muito valorizado. Ou o Brasil
cresce e passa a fazer a inclusão
social pelo mercado de trabalho
ou os ganhos sociais obtidos nos
últimos anos serão corroídos.
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