São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Voltando à vaca fria

BRASÍLIA - Ao captar 20 pontos de diferença entre Lula e Alckmin nos votos válidos, o Datafolha mostrou que a estratégia de Lula está certa, que Alckmin não tem estratégia nenhuma e que a eleição está praticamente definida.
A discussão volta no tempo, ao mesmo ponto em que estava quando a vitória de Lula no primeiro turno era favas contadas. O temor de uns e a torcida de outros é que a eleição passe e os escândalos fiquem, com o presidente tentando explicar, já no dia seguinte das urnas, de onde veio o dinheiro do dossiê, quem estava por trás e qual o grau de responsabilidade de Freud Godoy, seu assessor no Planalto.
Quanto mais enrolado estiver com dossiês e escândalos, mais Lula terá de ceder à sua "base aliada" -que, de aliada, não tem nada. Terá de negociar cargos, verbas e favores com aqueles partidos mensaleiros que já bem conhecemos, além de oferecer mundos e principalmente fundos para o PMDB.
Com o agravante de que Lula está sem quadros próprios. Benedita, Cristovam, Grazziano caíram logo no início. Dirceu, Palocci, Gushiken caíram estrondosamente. João Paulo, Genoino, Luizinho caíram de status. Mercadante caiu da condição de ministeriável.
Para não ficar na mão dos "aliados", Lula vai ter de buscar reforço inclusive do setor privado e da área acadêmica -se é que alguém, a essa altura, está disposto a entrar nesse campo minado.
Por fim, Lula tem de dar uma resposta a um consenso: o Brasil precisa crescer mais do que a média de menos de 3% dos últimos anos. Isso é vital. Mas ninguém diz como.
E não se iluda: Lula é Lula. Vai retomar projetos de controle de audiovisuais, de imprensa, de Ministério Público, de funcionário público falante. Ou seja, vai limitar os mesmos setores que foram sempre aliados do PT nas denúncias contra os adversários. Denúncia é bom e ele gosta. Mas contra os outros.


elianec@uol.com.br

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