|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MELCHIADES FILHO
Falso negativo
A DESASTRADA peça de propaganda de Marta Suplicy
merece repúdio, mas não a
tática do PT de desconstruir Kassab, fustigá-lo, forçá-lo a confrontar e explicar seu passado.
Uma das notícias destas eleições
é o alto número de candidatos desconhecidos, com pouco ou nenhum retrospecto eleitoral, que os
caciques partidários escolhem em
cima da hora para ampliar ou no
mínimo preservar suas zonas de
influência.
O próximo prefeito de Belo Horizonte será um deles. Marcio Lacerda "milita" há apenas um ano no
PSB -o governador Aécio Neves
necessitava de um preposto em um
partido intermediário para concretizar a ponte do PSDB com o PT. E
Leonardo Quintão (PMDB), seu
adversário no segundo turno, marcou a curta carreira de deputado
com projetos para outra cidade
-Ipatinga, o reduto político do pai.
É natural que a vida e a obra desses e outros "postes" despertem
curiosidade e sejam abordadas durante a campanha. Acostumado a
votar em pessoas, e não em partidos, o brasileiro tem direito a informações sobre elas. Quintão exagera o "erre" para soar mais mineiro?
Lacerda atuou no valerioduto?
Depois da "injúria indireta" de
Marta, porém, virou moda rejeitar
todo candidato que bate, dizer que
a propaganda inquisitiva é influência maldita dos EUA e exigir que os
políticos baixem a temperatura e
só discutam planos de governo.
Uma seqüência de reportagens
na Folha, contudo, revelou o que é
essa "agenda positiva": os candidatos invariavelmente copiam programas uns dos outros, reciclam
campanhas anteriores e/ou recortam-e-colam idéias implementadas em cidades vizinhas. Há pouca
diferença entre as propostas. Todos apelam a platitudes: priorizar a
saúde, investir na educação, melhorar o transporte...
Há, ainda, algo de hipócrita no
discurso que pede moderação. Em
2010, Dilma Rousseff poderá fazer
o papel de Kassab e, com o catálogo
do PAC nas mãos, desafiar a oposição a comparar obras. Qual atitude
terão os serristas, hoje indignados
com o acirramento da campanha?
Vão topar um debate "técnico"?
Ora, assim como será legítimo
vasculhar e questionar a trajetória
e as convicções do "poste" de Lula
daqui a dois anos, é legítimo hoje
acuar o prefeito que assumiu São
Paulo sem receber um único voto.
Eleição é escolha. Precisa de
contrastes, não de consensos. Por
isso, desde que mantenha a civilidade, a propaganda negativa presta
um serviço a quem vota. E não é
verdade que ela seja sempre ruim
para o desconstruído. Bombardeado pela oposição, João da Costa firmou-se como ator político e garantiu, em Recife, a mais expressiva
vitória petista no primeiro turno.
Quanto a Kassab, ele resiste na liderança. O eleitor observa, avalia e
julga também quem desconstrói.
mfilho@folhasp.com.br
MELCHIADES FILHO é diretor-executivo da Sucursal
de Brasília.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Sergio Costa: Cortina de fumaça Próximo Texto: Frases
Índice
|