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MARINA SILVA
Futuro ainda comprometido
NÚMEROS do Ipea e do
IBGE, divulgados recentemente, mostram que o país
não avançou no combate ao analfabetismo. Pelo contrário. Dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) 2008 mostram
que são mais de 14 milhões de analfabetos, 10% da população, com
uma redução de apenas 7,2 pontos
percentuais em comparação a
1992.
Tão grave quanto este dado é o
número de analfabetos funcionais.
Correspondem a 21% da população, ou 30 millhões de pessoas. Somando-se os dois grupos, chega-se
a quase 1/4 da população sem condições de ler ou compreender este
texto. Trata-se de uma exclusão
perversa e profunda.
Isso compromete o futuro do
Brasil dada a baixa qualificação da
mão-de-obra e os limites claros
que impõe ao pleno usufruto da cidadania, como sei de experiência
própria. Se o país não investe pesadamente em educação -e não apenas com recursos financeiros, mas
com prioridade estratégica- falta
algo fundamental a qualquer pretensão de se projetar no cenário internacional.
O Brasil pode se tornar a quinta
economia do mundo até 2016, sem
que tal conquista necessariamente
se reverta em mais qualidade de vida para os excluídos. No Nordeste,
houve uma redução de 13% do número de pobres nos últimos dez
anos, mostram os dados do IBGE.
O analfabetismo, contudo, permanece alto e isso deveria acender
um enorme sinal de alerta. A educação é o único instrumento capaz
de dar autonomia às pessoas para
transformar suas próprias realidades. Uma população mais escolarizada, em geral, sofre menos com
violência, tem mais acesso à saúde
preventiva, ganha salários maiores.
Investir em infraestrutura é necessário. O melhor investimento
que se pode fazer, porém, está na
própria população. Os desafios
educacionais são gigantescos. E
não se pode enfrentá-los sem um
esforço igualmente gigantesco, histórico, que ultrapasse as barreiras
burocráticas de uma política setorial e se entranhe em todos os níveis e áreas de governo e da sociedade. Dedicar a este esforço as verbas publicitárias públicas, para
campanhas motivadoras e mobilizadoras, já seria um bom começo.
É preciso sair urgentemente do
apego a estatísticas. Não basta alinhavar números de crianças na escola se, ao final do processo, elas se
sentem humilhadas pelo analfabetismo funcional.
Quanto mais tempo nos conformarmos com essa situação, mais
longe estaremos do Brasil que nossa população merece e do crescimento com qualidade que queremos e podemos ter.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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