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NEM PARA GARI
Para além dos números da
economia e das estatísticas relativas a nascimento e morte, um país
pode ser retratado pela forma como
educa sua população. No caso do
Brasil, infelizmente, a imagem que
emerge não é nada agradável.
Sob a gestão de Fernando Henrique Cardoso, o país finalmente universalizou o acesso à educação fundamental (1ª à 8ª séries). Mas o tamanho do desafio que décadas e décadas de descaso educacional produziram é grande demais: 57,64% dos
brasileiros com mais de 15 anos, isto
é, um exército de 69,7 milhões de
pessoas, têm menos de oito anos de
estudo, o que significa que não completaram o ensino fundamental. A rigor, não podem pleitear nem um
emprego como o de gari no Rio de
Janeiro, posto para o qual se exige a
conclusão da 8ª série.
Dez anos atrás, a situação era ainda
pior. Em 1992, o número de brasileiros com mais de 15 anos e menos de
oito anos de estudo chegava a
70,12%. Mas a queda verificada foi,
por assim dizer, a parte "fácil". Ela se
deveu em grande medida à universalização do acesso ao ensino, o que
significa que atinge principalmente
os mais jovens. Entre os adultos, as
cifras de baixa escolaridade ainda
são lamentáveis e nada sugere que
possam melhorar no curto prazo.
Dados do Censo Escolar 2002, do
Ministério da Educação, mostram
que as matrículas nos cursos destinados a adultos e jovens acima da
idade escolar ficaram praticamente
estáveis em relação ao ano anterior,
com um incremento de apenas
0,4%. Nas classes de alfabetização,
porém, verificou-se um expressivo
decréscimo de 7% nas matrículas.
As autoridades educacionais devem, sem dúvida nenhuma, priorizar
o ensino de jovens em idade escolar.
Mas, até por uma questão de cidadania, a população mais velha não pode ser esquecida. É inaceitável que
mais da metade da população adulta
do país não seja considerada intelectualmente apta a desempenhar a modesta função de gari.
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