São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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NEM PARA GARI

Para além dos números da economia e das estatísticas relativas a nascimento e morte, um país pode ser retratado pela forma como educa sua população. No caso do Brasil, infelizmente, a imagem que emerge não é nada agradável.
Sob a gestão de Fernando Henrique Cardoso, o país finalmente universalizou o acesso à educação fundamental (1ª à 8ª séries). Mas o tamanho do desafio que décadas e décadas de descaso educacional produziram é grande demais: 57,64% dos brasileiros com mais de 15 anos, isto é, um exército de 69,7 milhões de pessoas, têm menos de oito anos de estudo, o que significa que não completaram o ensino fundamental. A rigor, não podem pleitear nem um emprego como o de gari no Rio de Janeiro, posto para o qual se exige a conclusão da 8ª série.
Dez anos atrás, a situação era ainda pior. Em 1992, o número de brasileiros com mais de 15 anos e menos de oito anos de estudo chegava a 70,12%. Mas a queda verificada foi, por assim dizer, a parte "fácil". Ela se deveu em grande medida à universalização do acesso ao ensino, o que significa que atinge principalmente os mais jovens. Entre os adultos, as cifras de baixa escolaridade ainda são lamentáveis e nada sugere que possam melhorar no curto prazo.
Dados do Censo Escolar 2002, do Ministério da Educação, mostram que as matrículas nos cursos destinados a adultos e jovens acima da idade escolar ficaram praticamente estáveis em relação ao ano anterior, com um incremento de apenas 0,4%. Nas classes de alfabetização, porém, verificou-se um expressivo decréscimo de 7% nas matrículas.
As autoridades educacionais devem, sem dúvida nenhuma, priorizar o ensino de jovens em idade escolar. Mas, até por uma questão de cidadania, a população mais velha não pode ser esquecida. É inaceitável que mais da metade da população adulta do país não seja considerada intelectualmente apta a desempenhar a modesta função de gari.


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