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ELIANE CANTANHÊDE
A política como serviço
BRASÍLIA - As urnas foram até
condescendentes com parlamentares envolvidos ou suspeitos de envolvimento em maracutaias, mas
alguns dos deputados mais atuantes e mais experientes da Câmara
simplesmente não vão voltar. Uns
foram derrotados, outros nem disputaram.
Expoentes da Constituinte de
1988, à direita e à esquerda, respeitados pelos adversários e pela imprensa, estão entre as baixas: Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda,
da Agricultura e do Planejamento
na ditadura, Paulo Delgado, sociólogo e professor universitário, José
Thomaz Nonô, advogado e procurador que cumpriu seis mandatos
consecutivos, Roberto Freire, que
atravessou legislaturas e reformas
partidárias no partido comunista e
seus sucedâneos, Sigmaringa Seixas, ex-advogado de presos políticos e de estudantes, ponte segura
entre tucanos e petistas.
Essa gente faz falta, especialmente depois de uma legislatura marcada por mensalão, sanguessugas, a
eleição de Severino Cavalcanti e um
total desequilíbrio entre os políticos que fazem política e os arrivistas de toda sorte -que parecem
emergir dos subterrâneos do Congresso para presidências e lideranças de partidos, para as comissões,
para o poder, contaminando o ambiente e confundindo ainda mais a
percepção dos cidadãos sobre a importância da política.
O recado das urnas parece claro:
acabou a era das campanhas de opinião e de debate de idéias, tão efervescentes em 1988, e impõe-se a "política como serviço", como define Paulo Delgado. Em resumo, o eleitor não vota mais em quem pensa o país e o futuro, mas em quem
faz -ou pode, ou promete fazer-
algo concreto para melhorar a sua
vida já. Às favas as idéias, as políticas estratégicas. O momento é do
individualismo. Cada um por si, e
seja o que o eleitor quiser.
elianec@uol.com.br
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