São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A reestruturação da indústria de defesa

EDUARDO MARSON


As instituições brasileiras não estão acostumadas a "vender" o nosso país como produtor de material de defesa; essa mentalidade precisa mudar

Uma das questões que recomendará especial atenção da nova administração do país em 2011 será a consolidação do processo de modernização da estrutura nacional de defesa, que tem na reestruturação da indústria brasileira de material de defesa um dos seus pilares.
É inegável que o setor vive atualmente excelentes perspectivas para a institucionalização de novas práticas, capazes de impedir a descontinuidade que tem marcado as políticas públicas para o setor.
A começar pela centralização, no Ministério da Defesa, da aquisição de materiais para as Forças Armadas, prática que já ocorre em vários países, como EUA, França, Alemanha, Índia e África do Sul, e que favorece a otimização de recursos e o aproveitamento das tecnologias para que as Forças atuem em rede.
A criação de um sistema integrado com o setor privado, que inclui a busca de parcerias com outros países, é outra perspectiva promissora para aparelhar a indústria nacional de defesa e para conferir eficiência ao processo de capacitação tecnológica e de desenvolvimento da produção no país.
Há um entendimento, já consolidado em todo o mundo, de que o sucesso de empreendimentos em setores de ponta, como a indústria de defesa, envolve a criação de grandes projetos integradores, com a formação de redes globais de produção com arranjos produtivos locais, processo que, no Brasil, tem a Embraer como a empresa mais bem posicionada.
Nesse mercado, é praticamente impossível desenvolver um projeto sem ampla cooperação internacional. Os níveis de investimento e de sofisticação são altos e os ciclos de desenvolvimento das tecnologias empregadas são muito longos.
Os projetos exigem parceiros estratégicos, que ofereçam não apenas novas soluções tecnológicas mas também contrapartidas para as indústrias locais e acesso aos mercados internacionais.
Baseado numa estratégia de Estado estabelecida pelo atual governo, esse processo está em curso no Brasil. Mas, para a formação desses grandes projetos no país, serão necessárias três condições.
A primeira é garantir a continuidade do investimento, para que a indústria também tenha segurança para investir.
A segunda condição exigirá mudança de mentalidade. As instituições brasileiras não estão acostumadas a "vender" o país como produtor de material de defesa, como vemos ocorrer em processos de fornecimento de equipamentos, como o dos caças FX, ainda em andamento, em que os esforços de venda têm sido principalmente institucionais, com a participação dos governos.
O terceiro grande desafio para a reestruturação da indústria de defesa brasileira será unir competências de gestão com processos formais de inovação num país que, em pleno século 21, ainda enfrenta dilemas do século 20, como os gargalos de infraestrutura, e até mesmo do século 19, como as deficiências da educação.


EDUARDO MARSON, 47, é presidente da Helibras -Helicópteros do Brasil e presidente do conselho de administração da Eads Brasil, empresa do grupo europeu Eads, que atua nos setores aeroespacial e de defesa.

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