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FERNANDO RODRIGUES
O que fazer com ex-presidentes
BRASÍLIA - A fase de relativa
anestesia no noticiário político deixou quase sem repercussão a doação de meio milhão de reais de uma
empresa estatal paulista (a Sabesp)
para a ONG do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (o iFHC).
Os envolvidos só disseram um comedido "foi tudo legal".
Pode ser. Mas esse não é o ponto.
Ninguém elaborou sobre o principal: se é próprio ou não uma estatal
comandada politicamente por um
partido doar meio milhão de reais a
uma ONG pertencente a um ex-presidente da República filiado a
essa mesma legenda.
Registre-se que a doação de estatais para ONGs faz parte de uma
tendência anômala no terceiro setor no Brasil. As ONGs estão se
transformando em OMNGs (organizações meio não-governamentais). Mas essa é outra história.
O relevante no episódio do iFHC
com a Sabesp é chamar a atenção
para um tema polêmico. Algo a ser
enfrentado pelo país em algum momento: o que fazer com seus ex-presidentes da República?
No passado pré-1964, o Brasil estava na pré-história em termos institucionais. Nos 21 anos de ditadura, era inútil e ocioso pensar no assunto. Agora, na democracia, os ex-presidentes vivem num vácuo à
procura de ocupação.
José Sarney, do Maranhão, há
anos se elege senador pelo Amapá.
Fernando Collor virou senador por
Alagoas filiado ao partido cuja principal proposta é um certo aerotrem
para São Paulo. Itamar Franco governou Minas Gerais, decretou moratória e passou algum tempo sem
fazer nada na embaixada brasileira
de Roma. FHC reuniu empresários
no Palácio do Planalto e passou o
chapéu para montar o seu iFHC.
Daqui a pouco, em 2011, será a vez
de Lula.
Passou da hora de o país produzir
uma saída digna para seus ex-presidentes. Fingir que o problema não
existe é a pior solução.
frodriguesbsb@uol.com.br
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