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Criacionismo, não
GRAVES E COMPLEXOS problemas não faltam à ministra Marina Silva, em
suas atividades na pasta do Meio
Ambiente. Como se estes não
bastassem, sua participação no
3º Simpósio sobre Criacionismo
e Mídia, promovido pelo Centro
Universitário Adventista de São
Paulo, veio a colocá-la em dificuldades de outro tipo, diante
das quais o cargo que ocupa no
Estado brasileiro recomenda
cautela que não soube observar.
Em palestra intitulada "Meio
Ambiente e Cristianismo", Marina Silva valeu-se de sua formação evangélica para transpor em
chave religiosa o tema da preservação dos recursos do planeta.
Nada que inspirasse maiores
reparos, portanto -assim como
não se discute o direito de um
ministro professar, pessoalmente, qualquer tipo de crença ou
descrença religiosa.
Os adeptos do criacionismo,
entretanto, não se contentam
com pouco -e depois da conferência a ministra foi instada, em
entrevista, a dar sua opinião sobre o ensino das teorias antidarwinistas. Num estilo próximo ao
dos neoconservadores americanos, considerou que "as duas visões" devem ser oferecidas aos
alunos, para que "decidam" por
si mesmos.
Sob uma aparência de equanimidade, a tese faz parte de uma
investida anticientífica que, com
firmeza, cumpre repudiar. Pode-se, é claro, sustentar que a fé pessoal é compatível com o espírito
científico; que religião e ciência
não se opõem.
Talvez não se oponham, mas
certamente não se misturam. E é
isto o que o criacionismo tenta
fazer, sem base comprovada, e
com um aparato de falácias que
um estudante médio, no Brasil
ou em qualquer parte do mundo,
não tem condições de identificar.
Que a religião fique onde está, e
não se faça de ciência: eis uma
exigência, afinal modesta, mas
inegociável, da modernidade.
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