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ANTONIO DELFIM NETTO
Até quando?
NA VISITA de Obama à China, criou-se uma espécie de
G2 informal (EUA e China),
cujo comportamento arrogante
pretende determinar a evolução do
Resto do Mundo. Trata-se, sem dúvida, de duas importantes economias. Mas elas, somadas, não fazem mais do que 30,5% do PIB
mundial -quando avaliado pelas
taxas de câmbio correntes- ou
31,7%, quando avaliadas pelo duvidoso conceito de paridade de poder
de compra (2008). As exportações
dos dois países representaram, em
2008, 16,9% das exportações de bens e serviços mundiais.
A conversa de Obama com Hu
Jintao no que dizia aos interesses
recíprocos foi pouco mais do que
um diálogo de surdos: os EUA recusaram à China a sua pretensão
de ser reconhecida como "economia de mercado", e a China fingiu
que não ouviu a súplica americana para que deixasse o yuan flutuar livremente...
Em relação ao que parece que será o maior problema do século 21
-o aquecimento global no que respeita aos efeitos produzidos pela
atividade humana-, os dois continuam tendo um oportunismo cínico. A China afirma que fará tudo,
desde que isso não atrapalhe o
crescimento do PIB de 9% ao ano,
que o PC Chinês considera imprescindível para manter a ordem social sob controle. Os EUA comprometeram-se com uma redução da
emissão de CO2 (ainda não aprovada no Senado) que é o resultado secundário do seu objetivo principal:
a reconquista da autonomia energética perdida no século 20.
O problema do câmbio chinês
não é apenas americano. Representa uma ameaça para o equilíbrio da economia mundial. Cada
um dos seus parceiros individualmente teme a China: a perda do
seu mercado e a vantagem da importação barata. É evidente que a
Organização Mundial do Comércio (OMC) finge estar surda e muda, intimidada pelas ameaças chinesas. Parece confirmar o velho ditado chinês (anterior à admissão
da China no organismo) de que "a OMC não existe sem a China"...
O Brasil assiste paralisado à destruição de suas cadeias produtivas
pela supervalorização do real. A
Comunidade Econômica Europeia
vê a China transformar-se no primeiro exportador mundial (ultrapassando a Alemanha) com o euro
valorizado. O Japão vê a sua economia definhar com o iene supervalorizado. Alguém pode acreditar
que isso seja resultado da superprodutividade chinesa?
É hora de a OMC assumir a sua
responsabilidade pela boa organização do comércio internacional.
Até quando isso durará antes que
as forças políticas daqueles países
exijam a volta do protecionismo
que incomodará a China, ameaçará a economia mundial e liquidará
a OMC?
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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