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AJUSTE E INFLAÇÃO
O abandono da âncora cambial e a
reviravolta da ordem econômica reabriram a discussão sobre qual seria o
nível de inflação aceitável para o Brasil. Há ainda um enorme tabu em torno do tema -o que se justifica pelos
traumas acumulados durante a experiência inflacionária. É preciso no
entanto desmistificar a questão.
O impacto da desvalorização do real
sobre os índices de preços tem sido
previsto na casa de um dígito para os
próximos meses.
Esse era o nível da inflação pouco
mais de um ano após o Plano Real. Se
essas previsões forem confirmadas,
o país voltará a uma situação controlável, podendo dar continuidade ao
Real. Adotando-se as políticas adequadas, seria possível estabilizar de
novo os preços. Mais importante que
a taxa inflacionária, no entanto, são
as condições em que ela vai ocorrer.
Se o governo dessa vez realizar de
fato o ajuste fiscal sempre adiado, a
inflação poderá ficar sob controle.
Sem combate à sangria das contas
públicas, porém, o cenário mais provável será o retorno da espiral inflacionária, mesmo e apesar da recessão. Duas questões políticas serão
decisivas no horizonte imediato.
Em primeiro lugar, a capacidade do
governo e das lideranças políticas,
no Congresso e nos Estados, de procederem a ajustes que podem ter custos em termos de popularidade e de
votos. A outra questão refere-se à capacidade de a sociedade reagir ao
reaparecimento da inflação sem retornar às velhas práticas de indexação de preços e salários. A história
brasileira ensinou que esse seria o
caminho mais fácil para a catástrofe.
Tanto a propensão à indexação
quanto a negligência de certos políticos com relação ao déficit público
são duas faces de um mesmo e antigo
vício que precisa ser rechaçado. A
maneira mais eficaz de fazê-lo, nesse
momento, é insistir na necessidade
vital do ajuste, além de reprimir, com
os instrumentos necessários, aqueles que procurarem se aproveitar espertamente da nova situação para
ressuscitar os fantasmas do passado.
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