São Paulo, quarta, 20 de janeiro de 1999

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AJUSTE E INFLAÇÃO

O abandono da âncora cambial e a reviravolta da ordem econômica reabriram a discussão sobre qual seria o nível de inflação aceitável para o Brasil. Há ainda um enorme tabu em torno do tema -o que se justifica pelos traumas acumulados durante a experiência inflacionária. É preciso no entanto desmistificar a questão.
O impacto da desvalorização do real sobre os índices de preços tem sido previsto na casa de um dígito para os próximos meses.
Esse era o nível da inflação pouco mais de um ano após o Plano Real. Se essas previsões forem confirmadas, o país voltará a uma situação controlável, podendo dar continuidade ao Real. Adotando-se as políticas adequadas, seria possível estabilizar de novo os preços. Mais importante que a taxa inflacionária, no entanto, são as condições em que ela vai ocorrer.
Se o governo dessa vez realizar de fato o ajuste fiscal sempre adiado, a inflação poderá ficar sob controle. Sem combate à sangria das contas públicas, porém, o cenário mais provável será o retorno da espiral inflacionária, mesmo e apesar da recessão. Duas questões políticas serão decisivas no horizonte imediato.
Em primeiro lugar, a capacidade do governo e das lideranças políticas, no Congresso e nos Estados, de procederem a ajustes que podem ter custos em termos de popularidade e de votos. A outra questão refere-se à capacidade de a sociedade reagir ao reaparecimento da inflação sem retornar às velhas práticas de indexação de preços e salários. A história brasileira ensinou que esse seria o caminho mais fácil para a catástrofe.
Tanto a propensão à indexação quanto a negligência de certos políticos com relação ao déficit público são duas faces de um mesmo e antigo vício que precisa ser rechaçado. A maneira mais eficaz de fazê-lo, nesse momento, é insistir na necessidade vital do ajuste, além de reprimir, com os instrumentos necessários, aqueles que procurarem se aproveitar espertamente da nova situação para ressuscitar os fantasmas do passado.



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