São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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VOTO NO IRÃ

Os iranianos vão hoje às urnas para escolher seus legisladores. As circunstâncias não são das mais usuais. Tanto os reformistas quanto os conservadores estão divididos. No campo dos liberais, os mais radicais boicotam o pleito, enquanto os moderados, liderados pelo presidente Mohammad Khatami, defendem a participação. Nas hostes conservadoras, os pragmáticos querem conquistar uma maioria confortável no novo Majlis (Parlamento), enquanto os dogmáticos não dão muita atenção ao Legislativo.
A divisão entre os conservadores é a que desperta mais interesse, pois são eles que detêm de fato o poder no país. É também ela que explica a crise das candidaturas, deflagrada depois que o Conselho de Guardiães, espécie de Corte Constitucional, dominado por conservadores, vetou cerca de 2.500 candidatos reformistas.
A manutenção das proibições, mesmo depois de o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, ter pedido que o conselho as revisse parcialmente, sugere que os conservadores pragmáticos estão momentaneamente dando as cartas. Khamenei, é bom lembrar, representa os conservadores dogmáticos e indicou todos os membros do conselho.
Seja como for, a fissura nesse campo não é assim tão profunda. Os conservadores pragmáticos pretendem controlar o ritmo das reformas dominando o Parlamento; e os conservadores dogmáticos pretendem manter o controle simplesmente sem abrir mão de poder algum.
A grande incógnita são os estudantes. Se aderissem aos liberais radicais e saíssem às ruas para protestar, poderiam precipitar mudanças. Ao que tudo indica, porém, as divisões entre os conservadores e o prestígio declinante dos reformistas -que não conseguiram implementar reformas significativas desde a primeira eleição de Khatami, em 1997- contribuem para que os jovens se mantenham em compasso de espera.


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