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TENDÊNCIAS/DEBATES
Em defesa da PUC-SP
NADIR KFOURI, LUIZ E. WANDERLEY, LEILA BÁRBARA e ANTONIO C. RONCA
Como fizemos em
outras conjunturas críticas, é preciso tomar decisões corajosas, superar divisões
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Existem graves problemas históricos e estruturais que desafiam a
universidade brasileira: concepções teóricas e metodológicas, relações universidade e sociedade, gestão democrática,
avaliações institucionais, instâncias acadêmicas, autonomia e sustentabilidade,
entre outros. Eles também afetam a
PUC-SP, ademais daqueles que derivam de suas peculiaridades.
Um desses problemas -o da autonomia universitária- tem sido motivo de
polêmicas, sobretudo por seus efeitos
conhecidos: intervenções no período
militar, demissões nas instituições privadas por discordâncias de posições, indicações de reitores à revelia da vontade
da comunidade universitária, critérios
duvidosos para alocar e controlar recursos etc. Se, em tese, os estatutos universitários dispõem sobre a autonomia didática, administrativa e financeira, eles
ignoram a autonomia política, que reflete a liberdade de pensamento, ícone
da natureza acadêmica. Um controle
social democrático da sociedade e da
comunidade interna é questão básica a
ser analisada.
No caso da PUC-SP, essa autonomia
tem sido valorizada e defendida nas relações com o Estado e a sociedade civil.
Se, anteriormente, houve momentos de
interferências da Fundação São Paulo,
mantenedora da universidade, no geral,
sempre houve uma mediação fecunda,
e a fundação respeitou a autonomia.
Para superar a crise financeira da
enorme dívida acumulada, nos últimos
meses, primeiro, houve um pacto social
interno para encaminhar soluções definitivas, ainda que penosas. Depois, objetivando atingir as metas cobradas pelos bancos, encaminhou-se uma estratégia dura da fundação, que foi expressa
nas palavras do grão-chanceler à reitoria e na decisão de reestruturar o secretariado (que é composto, normalmente,
por um secretário, indicado pelo grão-chanceler, e que, no presente, é acumulado pela atual reitora; nomeando mais
dois membros, não pertencentes aos
quadros da universidade).
A fundação chamou a si a tarefa de determinar os cortes, desconsiderando o
Estatuto da Universidade, e executou
um processo de demissões utilizando
critérios não-acadêmicos e pouco
transparentes, além de se orientar por
uma lógica apenas econômico-financeira, a qual vem sendo aplicada em quase
todas as IES (Instituição de Ensino Superior) do Brasil, nas públicas e, principalmente, nas particulares.
A nosso juízo, essas medidas ferem a
autonomia universitária e rompem
com a tradição desse diálogo. Os efeitos
dessas demissões estão se mostrando
nocivos, além de desumanos. Trouxeram desesperança e indignação ao corpo docente e de funcionários, com reflexos negativos sobre os estudantes. Sem
falar nos prejuízos acadêmicos.
Torna-se patente que, no passado remoto e próximo, defrontamo-nos com
situações graves que, embora amplamente debatidas pelos gestores, colegiados e setores organizados da PUC-SP,
não levaram a medidas que assegurassem a sustentabilidade da universidade.
Por vezes se implementaram decisões
até duras e sofridas, mas insuficientes. O
quadro econômico-financeiro era complexo e foi se agravando ano a ano. No
entanto, apesar da insistência das sucessivas direções em apontar a gravidade
da situação, as respostas dadas não foram inteiramente satisfatórias.
Cabe, pois, responsabilidade a todos,
por diagnósticos imprecisos, medidas
protelatórias e, mais de uma vez, por
concessões enganosas e corporativismos, tanto das entidades sindicais como das instâncias acadêmicas, que impediram a busca de práticas alternativas
de fundo que poderiam ter mudado os
rumos da instituição. Apesar das limitações, conseguimos alcançar um nível de
excelência acadêmica, uma estrutura
colegiada e uma condição pública e democrática, reconhecidos pela opinião
pública.
Defendemos que é preciso assegurar o
diferencial da PUC-SP, configurado em
nossa identidade puquiana, de uma instituição democrática, de qualidade, de
natureza comunitária.
Para isso, faz-se necessário traçar um
planejamento positivo que: a) reforce a
institucionalidade e a sustentabilidade;
b) reveja e fortaleça mecanismos e canais adequados de diálogo permanente
entre a fundação e o grão-chanceler
com as instâncias deliberativas da PUC-SP; c) aprofunde e explicite a concepção
de uma universidade pública não-estatal, que objetive a universalidade, a
transparência, o controle social, a democratização, a cultura cívica, a participação ativa em todas as esferas.
E, para tanto, a autonomia é indispensável. Cientes, contudo, de que as eventuais soluções internas devem estar relacionadas com reformas políticas profundas no país, na perspectiva de um
desenvolvimento sustentável, com ênfase numa educação de qualidade em
todos os níveis e um compromisso social efetivo das universidades.
Como fizemos em outras conjunturas
críticas, é preciso tomar decisões corajosas, superar divisões, romper as omissões, estimular a criatividade, ter a vontade política de, juntos, buscar soluções
que não a descaracterizem e garantam a
continuidade e o aprimoramento da excelência acadêmica e do seu espírito público e democrático.
Nadir Gouvêa Kfouri, 92, assistente social, foi
reitora da PUC-SP de 1976 a 1984.
Luiz Eduardo W. Wanderley, 70, sociólogo, foi
reitor da PUC-SP de 1984 a 1988.
Leila Bárbara, 67, lingüista aplicada, foi reitora
da PUC-SP de 1988 a 1992.
Antonio Carlos Caruso Ronca, 60, educador,
foi reitor da PUC-SP de 1993 a 2004.
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