São Paulo, domingo, 20 de março de 2011 |
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LUCIANA COELHO Parceiro, não aliado Em diplomatiquês, há uma distância continental entre os termos "aliado" e "parceiro". A viagem de Barack Obama ao Brasil deixa óbvia essa distinção. E mostra que a Brasília -mesmo sendo Bric e assumindo maior protagonismo internacional- está reservada a segunda categoria. O Brasil não é a Índia aos olhos dos Estados Unidos nem o será assim tão logo, independentemente de quem esteja no poder lá ou cá. Não faz sentido, portanto, esperar que porque Obama apoiou formalmente a reivindicação indiana por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, ao visitar o país em novembro, ele agora faça o mesmo com o Brasil. Apreço não é apoio. É ser simpático à ideia, sem se comprometer com ela. Afinal, a Índia é vista como contrapeso à China, faz fronteira com o maior pepino militar que os Estados Unidos enfrentam (Paquistão/Afeganistão) e tem a bomba nuclear -além de um mercado consumidor irrestrito de 1,1 bilhão de pessoas. É uma peça estratégica e, por isso, "aliada". A palavra é usada com parcimônia por governos e chancelarias e implica transferir recursos (financeiros ou militares) ou em benesses como o acordo de cooperação nuclear civil de 2005, que deu a Nova Déli privilégios com Washington mesmo sem aderir ao Tratado de Não Proliferação. E o Brasil? O Brasil é parceiro. Um parceiro importante, repetem os Estados Unidos. Mas não é um aliado, corrigem diplomatas dos dois lados. É um protagonista, com o qual Washington quer dividir responsabilidades na região. Porém não se pode dizer que o Haiti tenha o peso do Paquistão para os Estados Unidos. Tampouco se imagina que Caracas assombre a Casa Branca como Pequim. É um ator político importante, cujo apoio em ações e declarações diplomáticas conjuntas não só é bem-vindo como é procurado. Ainda assim, pesa a oposição eventual em questões como o programa nuclear iraniano, que de incômoda passaria a contraproducente, aos olhos americanos, caso o país ganhasse direito a veto na ONU. É um mercado atraente, com o qual se deve buscar acordos bilaterais, embora na moribunda Rodada Doha de liberalização comercial os dois países estejam em campos contrários. Nada disso é pouco. Mas não é o suficiente para que a Casa Branca se comprometa com uma declaração inequívoca, que suplante o tradicional "a ONU tem de ser reformada" e seja mais do que simpática ao pleito brasileiro. Para os Estados Unidos diluírem seu poder no Conselho, é preciso haver um de seus interesses vitais na barganha. Quem diria. Chegou o dia em que queremos ser menos Bélgica e mais Índia.w LUCIANA COELHO é correspondente da Folha em Boston (EUA). Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A grande pergunta Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES José Agripino Maia: A importância do DEM para o Brasil Índice | Comunicar Erros |
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