São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A quem interessa?
GUILHERME AFIF DOMINGOS
Não bastasse a atuação do MST invadindo propriedades rurais ao longo dos últimos anos, com a omissão, ou até o estímulo, de setores governamentais, verifica-se, agora, um movimento claramente orquestrado de invasões na área rural por grupos indígenas e uma posição unilateral dos órgãos públicos, que dialogam apenas com uma das partes, a dos invasores, sem levar em conta a situação dos legítimos proprietários. Ao mesmo tempo, cria-se nova polêmica em relação à demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, que ocupará grande parte do território do Estado de Roraima, insistindo-se na demarcação de uma área contígua, que implica a destruição de cidades e a expulsão de um grande contingente de pessoas -inclusive muitos mestiços- da reserva, apesar da oposição de grupos indígenas que preferem a convivência com os atuais habitantes da região. Em todos esses movimentos que afetam a agricultura brasileira nota-se o apoio, quando não a influência, de organizações não-governamentais estrangeiras, que não apenas exercem pressão, como financiam ações e manifestações, geralmente sob pretextos de defesa do meio ambiente, da inclusão social ou de uma "volta à natureza" da população indígena, que deve ser mantida em seu estado primitivo para deleite de alguns antropólogos que se beneficiam de todas as comodidades do progresso. Não se discutem o patriotismo e a sinceridade de brasileiros que defendem essas posições, mas cabe indagar qual o real objetivo de alguns grupos estrangeiros que as incentivam. A quem realmente interessa dificultar o desenvolvimento da agricultura brasileira em um momento em que se discute o grande desafio que representa o ingresso da China, e também da Índia, como grande consumidora de alimentos, à medida que aumenta a renda per capta de suas gigantescas populações? Enquanto o Brasil briga nos organismos internacionais para a redução do subsídio agrícola dos países industrializados, para poder ocupar seu lugar como o grande celeiro mundial, a agricultura sofre com esses problemas, que podem afetar os investimentos no setor. Será que as pressões e os financiamentos externos em apoio às invasões no campo, às restrições às pesquisas refletem movimentos desinteressados de caráter humanitário de organizações estrangeiras ou, em muitos casos, servem a interesses de concorrentes da agricultura brasileira no mercado internacional? Essas são questões que precisam ser debatidas sem preconceito ou xenofobia, mas com realismo, para que as posições e soluções em relação aos problemas enfrentados pela agricultura sejam fruto de um consenso interno e representem os legítimos interesses nacionais. Guilherme Afif Domingos, 60, é presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo) e da ACSP (Associação Comercial de São Paulo). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Roberto Requião: Presidente, onde fica a saída? Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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