|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Dengue, responsabilidades e desafios
LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA
No controle da doença, é contraproducente procurar culpados; todos somos responsáveis, incluindo as três esferas de governo
VAMOS direto ao ponto: a dengue é uma doença grave que está cada vez mais perigosa e pode, em alguns casos, até matar. Isso
em todo o mundo.
A doença hoje é rotineira em mais
de cem países, na América, na Ásia, na
África e na Oceania. O mosquito
transmissor da dengue tem no clima
tropical um ambiente favorável para
se reproduzir em progressão geométrica -e isso vem acontecendo.
Como o vetor está cada vez mais
adaptado aos centros urbanos e ao
inimaginável aumento dos resíduos
sólidos (lixo e entulhos), favoráveis à
sua reprodução, erradicá-lo é uma tarefa muito difícil.
Desde os anos 80, o Brasil convive
com a dengue causada por 3 dos 4 tipos de vírus existentes. O sorotipo 3
do vírus da dengue atualmente predomina no território nacional e causa
sintomas mais intensos nas pessoas
infectadas, principalmente naquelas
que estão adoecendo pela segunda
vez. Some-se a isso o calor intenso,
decorrente das mudanças climáticas
do país (aquecimento global), aliado
às chuvas tradicionais do início do
ano, e teremos um cenário propício
para o avanço da doença, como de fato
vem ocorrendo.
Até 26 de março, conforme boletim
divulgado pelo Ministério da Saúde,
foram notificados 134,9 mil casos de
dengue no país, 55 mil deles no Estado do Mato Grosso do Sul.
No Estado de São Paulo, onde vivem 41 milhões de pessoas, 22% da
população brasileira, houve 20,3 mil
casos de dengue, até 13 de abril. Desse
total, quase a metade -8,8 mil- concentrada nas regiões de Araçatuba e
São José do Rio Preto, próximas à divisa com o Mato Grosso do Sul.
O número de casos entre os paulistas neste ano é 27% inferior ao registrado no mesmo período de 2006,
quando foram confirmadas 27,9 mil
ocorrências.
Apesar da diminuição, que é importante, nem de longe podemos descuidar do combate ao mosquito. Neste
ano, já ocorreram oito óbitos por dengue, dos quais seis da forma hemorrágica. Em 2006 foram 14 óbitos em todo o Estado. Estes dados evidenciam
a necessidade de redobrarmos os esforços para o combate à doença.
É bom ressaltar que, no controle da
dengue, é absolutamente desnecessário e contraproducente ficar procurando culpados pelo avanço da doença. Obviamente, todos somos responsáveis, incluindo os dirigentes das
três esferas de governo.
Trata-se de uma questão delicada,
de mudança de hábitos, uma vez que
80% dos criadouros do Aedes aegypti
(mosquito transmissor) estão no interior das casas das pessoas.
Se, em um quarteirão, apenas um
único imóvel estiver com a caixa d'água destampada, tornando-se foco de
criação do vetor, toda a vizinhança estará ameaçada.
O controle do mosquito transmissor é uma atividade primordialmente
individual (criadouros residenciais) e
municipal (lixo urbano), ou seja, de
responsabilidade do cidadão e das
prefeituras.
O Ministério da Saúde e as secretarias estaduais realizam atividades de
apoio, auxiliando o financiamento
das atividades, capacitando profissionais e dando suporte ao trabalho de
campo das prefeituras.
A Secretaria de Estado da Saúde reservou, neste primeiro semestre, cerca de R$ 20 milhões exclusivamente
para combate à dengue e o ministério
irá repassar diretamente aos municípios paulistas mais de 40 milhões para o controle de doenças.
Em janeiro deste ano, cerca de 400
agentes foram contratados para reforçar o apoio às equipes municipais
durante o verão em regiões consideradas prioritárias. Agora, em abril, a
Superintendência de Controle de Endemias abriu concurso para ampliar
seu quadro fixo de agentes de saúde
em mais 119 profissionais.
Também neste início de ano foi
consolidado o Comitê Estadual de
Mobilização contra a Dengue, envolvendo 35 órgãos governamentais,
empresariais e da sociedade civil em
ações de prevenção à doença. Em 31
de março promoveu-se um "dia D"
em todo o Estado, com atividades de
alerta e combate ao mosquito, como
visitas casa a casa, retirada de entulhos e distribuição de panfletos em
cerca de 500 municípios infestados.
Em parceria com a Polícia Militar, a
secretaria lançou, neste mês, um Esquadrão Especial Antidengue, com
60 profissionais da Sucen treinados
para atuar em cidades com alta incidência da doença. A primeira ação do
esquadrão e da prefeitura aconteceu
na semana de 16 a 20 de abril, no município de Sumaré, com atividades de
nebulização -para atacar mosquitos
adultos-, vistorias em imóveis e
orientações à população.
Todas essas iniciativas, embora
fundamentais, serão insuficientes para conter a dengue se não houver o
devido envolvimento dos cidadãos,
paulistas e brasileiros, no que se refere aos cuidados diários para evitar recipientes com acúmulo de água limpa
e parada em seus imóveis.
Somente desta forma o controle da
dengue terá resultados mais efetivos,
evitando-se novas internações e mortes pela doença.
LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA, 53, médico sanitarista, é secretário da Saúde do Estado de São Paulo.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Arnaldo Niskier: Primavera em Tóquio
Índice
|