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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Indústria do golpismo
SÃO PAULO - Ninguém pode, de
boa-fé, ser contrário à punição daqueles governantes que corrompem o processo eleitoral. Compra
de votos, uso indevido da máquina
pública, abuso do poder econômico
-são todos comportamentos passíveis de sanções, até mesmo da cassação do mandato, medida que se
banalizou, mas de trivial não tem
nada. Este é o primeiro ponto.
Segundo: ninguém compromissado com a democracia pode aceitar que a cassação de alguém tenha
como consequência a sua substituição por quem foi vencido nas urnas.
O segundo colocado não é o próximo da fila, mas o que foi rejeitado
pelo voto popular. Não é o reserva
do time, é o adversário derrotado. É
preciso desvincular o castigo ao
corrupto do prêmio ao perdedor.
Não tem sido essa, porém, a interpretação da justiça eleitoral.
Suas decisões recentes parecem dar
curso a uma nova indústria do golpismo no país, agora com amparo
legal. Ainda mal começamos a perceber as consequências políticas
desse protagonismo.
Há dois meses, José Maranhão
(PMDB), derrotado em 2006 por
Cássio Cunha Lima (PSDB), assumiu o governo da Paraíba. Agora,
Roseana Sarney (PMDB) vem ocupar o cargo de Jackson Lago (PDT)
no Maranhão. Falta a esses dois governantes o oxigênio da democracia: legitimidade popular.
Há outros seis governadores na
mira do TSE. Se a moda pega, corremos o risco de regredir para um
quadro realmente sinistro: quase
um terço das unidades da Federação nas mãos de quem foi derrotado
nas urnas em 2006.
Não por acaso os governantes sub
judice vêm de Estados periféricos,
onde a disputa pelo poder se trava
muitas vezes entre famílias rivais e
o aparelho burocrático vive refém
do arbítrio, sujeitado ao pessoalismo mais brutal.
O caso do Maranhão, a capitania
hereditária dos Sarney e seus agregados, é exemplar e joga luz sobre
um problema que o ultrapassa. A
justiça eleitoral está patrocinando a
reciclagem da política dos coronéis.
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