São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2010

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Único recurso

Sinais de aquecimento e desempenho fiscal insuficiente prenunciam elevação mais forte da taxa básica de juros

COM O FORTE desempenho da economia no primeiro trimestre, muitos analistas elevam suas projeções de aumento de preços e de expansão do PIB para este ano. Tais revisões, que chegam a estimar em 6% a inflação e em 7% o crescimento econômico, aquecem o debate sobre o tamanho do ajuste de juros necessário nos próximos meses.
As evidências de aceleração são claras. Do lado da indústria, por exemplo, após três meses de acomodação no final do ano passado, a produção voltou a crescer no primeiro trimestre, indicando alta de 2,5% em relação aos três últimos meses de 2009.
É verdade que o uso da capacidade produtiva está ainda aquém do nível pré-crise, talvez devido à maturação de investimentos e, certamente, graças ao crescimento das importações no ritmo de 40% ao ano. Mas é em outros setores que as pressões inflacionárias têm se manifestado com mais intensidade.
Do lado do consumo, as vendas no varejo já ultrapassaram o nível anterior ao da crise há vários meses e até o momento não há sinais de arrefecimento. Ao contrário, no primeiro bimestre houve aceleração das vendas, no ritmo de 15% ao ano -enquanto o mesmo período de 2009 mostrava expansão de cerca de 10%.
A perspectiva de encerramento do corte de IPI sobre bens duráveis pode ter antecipado as vendas, mas mesmo setores não atingidos por essas medidas, como o de bens não duráveis, estão em aceleração, impulsionados pelos ganhos de renda.
É no mercado de trabalho que talvez resida o principal foco de pressões. Criaram-se 657 mil vagas formais no primeiro trimestre e a taxa de desemprego ajustada pela sazonalidade atingiu 7,2% em fevereiro, a menor da série iniciada em 2003, quando o IBGE adotou nova metodologia.
A manter-se o padrão dos últimos meses, a taxa de desemprego poderá terminar 2010 em torno de 6% -número bem inferior às atuais projeções. Neste caso haveria uma tendência generalizada de aumento real da massa de salários superior a 10% ao ano, com impacto sobre a inflação de serviços, que já roda a 6%.
O quadro torna-se mais complexo ao se considerar a retomada do crescimento internacional e a tendência de alta nos preços das commodities.
É um cenário desafiador para o Banco Central, que justificou sua paciência em março com a necessidade de melhor analisar a natureza das pressões inflacionárias e o ritmo da expansão da demanda após o encerramento de várias medidas de estímulo adotadas no ano passado.
Se ainda há incertezas, elas serão dirimidas com o comportamento da economia no segundo trimestre. O ajuste de juros será inevitável -e possivelmente irá além dos 3 pontos percentuais previstos pelo mercado.
Existe portanto a possibilidade de que novamente o crescimento seja prejudicado pela política monetária. É de lamentar, mas não poderia ser diferente, pois a política econômica do governo, ao deixar em segundo plano o esforço fiscal, encontra na taxa de juros seu único instrumento para combater a inflação.


Próximo Texto: Editoriais: Festa do interior

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.