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Sinais de aquecimento e desempenho fiscal insuficiente prenunciam elevação mais forte da taxa básica de juros
COM O FORTE desempenho da economia no primeiro trimestre, muitos
analistas elevam suas
projeções de aumento de preços
e de expansão do PIB para este
ano. Tais revisões, que chegam a
estimar em 6% a inflação e em
7% o crescimento econômico,
aquecem o debate sobre o tamanho do ajuste de juros necessário
nos próximos meses.
As evidências de aceleração
são claras. Do lado da indústria,
por exemplo, após três meses de
acomodação no final do ano passado, a produção voltou a crescer
no primeiro trimestre, indicando alta de 2,5% em relação aos
três últimos meses de 2009.
É verdade que o uso da capacidade produtiva está ainda aquém
do nível pré-crise, talvez devido à
maturação de investimentos e,
certamente, graças ao crescimento das importações no ritmo
de 40% ao ano. Mas é em outros
setores que as pressões inflacionárias têm se manifestado com
mais intensidade.
Do lado do consumo, as vendas
no varejo já ultrapassaram o nível anterior ao da crise há vários
meses e até o momento não há
sinais de arrefecimento. Ao contrário, no primeiro bimestre
houve aceleração das vendas, no
ritmo de 15% ao ano -enquanto
o mesmo período de 2009 mostrava expansão de cerca de 10%.
A perspectiva de encerramento do corte de IPI sobre bens duráveis pode ter antecipado as
vendas, mas mesmo setores não
atingidos por essas medidas, como o de bens não duráveis, estão
em aceleração, impulsionados
pelos ganhos de renda.
É no mercado de trabalho que
talvez resida o principal foco de
pressões. Criaram-se 657 mil vagas formais no primeiro trimestre e a taxa de desemprego ajustada pela sazonalidade atingiu
7,2% em fevereiro, a menor da
série iniciada em 2003, quando o
IBGE adotou nova metodologia.
A manter-se o padrão dos últimos meses, a taxa de desemprego poderá terminar 2010 em torno de 6% -número bem inferior
às atuais projeções. Neste caso
haveria uma tendência generalizada de aumento real da massa
de salários superior a 10% ao
ano, com impacto sobre a inflação de serviços, que já roda a 6%.
O quadro torna-se mais complexo ao se considerar a retomada do crescimento internacional
e a tendência de alta nos preços
das commodities.
É um cenário desafiador para o
Banco Central, que justificou sua
paciência em março com a necessidade de melhor analisar a
natureza das pressões inflacionárias e o ritmo da expansão da
demanda após o encerramento
de várias medidas de estímulo
adotadas no ano passado.
Se ainda há incertezas, elas serão dirimidas com o comportamento da economia no segundo
trimestre. O ajuste de juros será
inevitável -e possivelmente irá
além dos 3 pontos percentuais
previstos pelo mercado.
Existe portanto a possibilidade
de que novamente o crescimento
seja prejudicado pela política
monetária. É de lamentar, mas
não poderia ser diferente, pois a
política econômica do governo,
ao deixar em segundo plano o esforço fiscal, encontra na taxa de
juros seu único instrumento para combater a inflação.
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