São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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ANTONIO DELFIM NETTO

Blindagem do BC

É CADA VEZ mais evidente que o Brasil "importou" uma crise de crédito no dia 16 de setembro de 2008 em dimensão muito superior à necessária.
O nosso sistema bancário havia sido "saneado" com o Proer em 1997 (alguns de seus autores ainda respondem por isso na Justiça!), e suas "ligações" com o sistema financeiro mundial poderiam ter sido sustentadas (pelo menos no curto prazo) por uma ação mais enérgica e mais expedita do nosso Banco Central.
Na falta dela, nossos banqueiros, infelizmente, mas compreensivelmente, entraram em pânico naquele domingo à tarde, quando o Tesouro Americano e o Fed comunicaram ao mundo a grande "barbeiragem" do século 21. Haviam destruído um "nó" importante da grande rede de crédito mundial com o abandono do Lehman Brothers à sua própria sorte. Isso levou ao colapso instantâneo de toda a rede, antes mesmo de os mercados abrirem na segunda-feira...
Entre 2002 e 2008, nossa situação mudou completamente, como resultado da expansão mundial: 1) nossas exportações, que cresciam à taxa de 4% ao ano, passaram a crescer a 22%; 2) nossa dívida externa, que representava quatro anos de exportações, foi reduzida a um ano; 3) nossas reservas, que representavam 10% da dívida externa, passaram a 100% dela, e nosso crescimento econômico anual duplicou, sem risco para a taxa de inflação ou o equilíbrio externo.
Durante esse período, o nosso Banco Central adquiriu musculatura suficiente para dar conforto imediato aos bancos nacionais. Como explicar que, depois de oito meses, ainda estamos fazendo o que deveríamos ter feito em setembro: amenizar a redução do crédito interbancário e frustrar a busca pela liquidez que a insegurança impôs a todos os agentes do mercado (banqueiros, empresários e trabalhadores)?
Há muitas hipóteses. Talvez a mais plausível seja a de que a estrutura jurídica existente não dava (e ainda não dá) "conforto" ao próprio Banco Central. Ele não recebeu suporte jurídico necessário e criou uma perigosa filosofia: banco grande é melhor do que banco pequeno, e banco público é melhor do que banco privado, dificultando ainda mais o restabelecimento do crédito interbancário.
A situação do credito está melhorando, mas ainda está muito longe da normalidade e, na margem, o seu custo continua absurdo. O BC agiu na direção correta, mas sem convicção, e estamos pagando um alto preço por isso.
Talvez seja hora de o "blindarmos", de fato, para que ele possa, com maior desenvoltura e com sua musculatura, estimular a atividade neste meio ano de 2009 que nos falta viver...

contatodelfimnetto@uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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