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ANTONIO DELFIM NETTO
Blindagem
do BC
É CADA VEZ mais evidente que
o Brasil "importou" uma crise
de crédito no dia 16 de setembro de 2008 em dimensão muito
superior à necessária.
O nosso sistema bancário havia
sido "saneado" com o Proer em
1997 (alguns de seus autores ainda
respondem por isso na Justiça!), e
suas "ligações" com o sistema financeiro mundial poderiam ter sido sustentadas (pelo menos no
curto prazo) por uma ação mais
enérgica e mais expedita do nosso
Banco Central.
Na falta dela, nossos banqueiros,
infelizmente, mas compreensivelmente, entraram em pânico naquele domingo à tarde, quando o
Tesouro Americano e o Fed comunicaram ao mundo a grande "barbeiragem" do século 21. Haviam
destruído um "nó" importante da
grande rede de crédito mundial
com o abandono do Lehman Brothers à sua própria sorte. Isso levou
ao colapso instantâneo de toda a
rede, antes mesmo de os mercados
abrirem na segunda-feira...
Entre 2002 e 2008, nossa situação mudou completamente, como
resultado da expansão mundial: 1)
nossas exportações, que cresciam à
taxa de 4% ao ano, passaram a crescer a 22%; 2) nossa dívida externa,
que representava quatro anos de
exportações, foi reduzida a um ano;
3) nossas reservas, que representavam 10% da dívida externa, passaram a 100% dela, e nosso crescimento econômico anual duplicou,
sem risco para a taxa de inflação ou
o equilíbrio externo.
Durante esse período, o nosso
Banco Central adquiriu musculatura suficiente para dar conforto
imediato aos bancos nacionais. Como explicar que, depois de oito meses, ainda estamos fazendo o que
deveríamos ter feito em setembro:
amenizar a redução do crédito interbancário e frustrar a busca pela
liquidez que a insegurança impôs a
todos os agentes do mercado (banqueiros, empresários e trabalhadores)?
Há muitas hipóteses. Talvez a
mais plausível seja a de que a estrutura jurídica existente não dava (e
ainda não dá) "conforto" ao próprio Banco Central. Ele não recebeu suporte jurídico necessário e
criou uma perigosa filosofia: banco
grande é melhor do que banco pequeno, e banco público é melhor do
que banco privado, dificultando
ainda mais o restabelecimento do
crédito interbancário.
A situação do credito está melhorando, mas ainda está muito
longe da normalidade e, na margem, o seu custo continua absurdo.
O BC agiu na direção correta, mas
sem convicção, e estamos pagando
um alto preço por isso.
Talvez seja hora de o "blindarmos", de fato, para que ele possa,
com maior desenvoltura e com sua
musculatura, estimular a atividade
neste meio ano de 2009 que nos
falta viver...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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