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Editoriais
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Rastro de escândalo
OS BOMBEIROS chegaram em
menos de dez minutos.
Eis a única informação
positiva que se pode colher do
noticiário sobre o incêndio no
Instituto Butantan, em São Paulo, ocorrido no sábado.
Enquanto se avalia a dimensão
dos prejuízos ao seu acervo científico, o maior do mundo na área,
pululam evidências de descaso
na instituição.
Uma coleção iniciada há 120
anos, com cerca de 580 mil
exemplares de animais, entre cobras, aranhas e escorpiões, estava depositada num galpão que
possuía, como único recurso de
combate ao fogo, extintores acionados manualmente.
Sem um sistema adequado de
prevenção, eram previsíveis os
efeitos devastadores de qualquer
faísca elétrica naquele ambiente,
onde milhares de espécimes
eram conservados em álcool.
Quanto custaria instalar dispositivos automáticos de combate
ao fogo no local? O orçamento
existia, e não era exorbitante:
calcula-se que, por R$ 1 milhão, o
sistema teria sido implantado.
Não é que faltasse a verba. O
Instituto Butantan recebeu, entre 2007 e 2008, tal montante de
recursos para realizar obras de
infraestrutura; foram utilizados
para outros fins. A solicitação para equipamentos anti-incêndio,
que teria sido feita, perdeu-se
nos desvãos da burocracia.
Definitivamente, R$ 1 milhão
não era tanto dinheiro. Em especial quando se toma conhecimento dos R$ 35 milhões que,
segundo o Ministério Público,
foram subtraídos da Fundação
Butantan, braço operacional do
instituto, por funcionários do
seu segundo escalão.
Os cientistas do Butantan agora tratam de avaliar a perda e de
buscar, em instituições similares, ajuda para repará-la.
Não é necessário, todavia, ser
especialista em serpentes -nem
em investigações criminais- para detectar nesse episódio o rastro, amplamente conhecido na
administração pública, do descuido e do escândalo.
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