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CARLOS HEITOR CONY
A internet e a roda
RIO DE JANEIRO - Continuo indeciso diante do universo virtual,
notadamente do tipo de comunicação instantânea e barata que a internet nos dá. Evidente que dela me
beneficio, tal como me beneficiei do
computador.
Passei mais de 20 anos sem escrever ficção, porque não suportava a
máquina de escrever, mesmo aquelas que se diziam eletrônicas. O
computador abriu um mundo para
mim -se é que o meu umbigo é a
coisa mais importante do universo.
Pessoalmente, acho que é.
Embora me utilize da internet
diariamente, continuo achando que
ela é poluidora, não no sentido ecológico, mas espiritual. Dá informações demais, excessivas, inúteis e
redundantes. Mesmo a comunicação por e-mail, que aboliu o fax, o
telegrama e a carta postal, transformou-se numa correspondência cultural e afetiva maciça, e nem sempre sincera, refletida e consciente.
A facilidade dos desabafos, das
confissões, até mesmo da expressão
dos sentimentos, protegidos por
códigos secretos e relativo anonimato, cria um universo que pode
ser duplamente virtual, na forma
tecnológica da expressão eletrônica
e no conteúdo que deságua no faz
de conta da fantasia.
Não há segurança, nem moral
nem material, no universo eletrônico. Ele é, sem dúvida, a ferramenta
mais importante inventada pelo
homem depois da roda. Mas é um
instrumento, nada mais do que isso.
Como a roda, a informática está
gerando uma nova civilização. É o
início de nova era, além e acima do
admirável mundo novo, que já está
defasado. De seis em seis meses, o
mundo novo se torna mais admirável e complexo, diluindo responsabilidades e anulando o indivíduo,
que nada tem de admirável, mas lamentável. Como a roda, a internet
apenas nos facilita o caminho. Mas
não nos aponta um destino.
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