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FALTAM ÓRGÃOS
Tendo evoluído de técnica
experimental reservada a pacientes em estado desesperador para
procedimento de rotina nos grandes
centros médicos, os transplantes são
hoje a terapia de escolha e, em muitos casos, a única alternativa para
uma série de doenças.
Avanços nas técnicas cirúrgicas,
melhor controle da rejeição e indicações mais precisas elevam em muito
a sobrevida dos transplantados. Para
pacientes cardíacos, a sobrevida
após um ano é de 85% e de 70% após
cinco. No caso do fígado, esses índices chegam a 90% e 80%. A melhora
na qualidade de vida é substancial.
Reportagem publicada por esta Folha no último domingo revela que
apenas 30% dos órgãos de doadores
em potencial são aproveitados. Entende-se por doador potencial pessoa com diagnóstico de morte encefálica e disposta à doação.
A escassez de órgãos é hoje, no
mundo inteiro, a maior barreira à
ampliação dos transplantes. No Brasil, de forma paradoxal, a violência
aumenta significativamente o número de eventuais doadores. As vítimas
de acidentes de trânsito e tiros com
traumatismo craniencefálico possibilitariam maior oferta de órgãos.
Na prática, porém, uma série de fatores continua a limitar as cirurgias.
O principal é a falta de estrutura para
a captação do órgão. Outros problemas, como financiamento e critérios
para estabelecer a fila única, também
conspiram para tornar o transplante
não uma esperança de uma vida melhor, mas um martírio.
Não se pode esperar que um país
de Terceiro Mundo tenha uma medicina de Primeiro, mas algumas medidas de baixo custo como campanhas para ampliar o universo de doadores e melhor organização da distribuição podem conferir mais eficiência ao sistema como um todo.
Pessoas já morrem muito amiúde
de forma tola no Brasil; se essas mortes puderem reverter em vida para
outros, menos mal.
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