São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2000


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FALTAM ÓRGÃOS

Tendo evoluído de técnica experimental reservada a pacientes em estado desesperador para procedimento de rotina nos grandes centros médicos, os transplantes são hoje a terapia de escolha e, em muitos casos, a única alternativa para uma série de doenças.
Avanços nas técnicas cirúrgicas, melhor controle da rejeição e indicações mais precisas elevam em muito a sobrevida dos transplantados. Para pacientes cardíacos, a sobrevida após um ano é de 85% e de 70% após cinco. No caso do fígado, esses índices chegam a 90% e 80%. A melhora na qualidade de vida é substancial.
Reportagem publicada por esta Folha no último domingo revela que apenas 30% dos órgãos de doadores em potencial são aproveitados. Entende-se por doador potencial pessoa com diagnóstico de morte encefálica e disposta à doação.
A escassez de órgãos é hoje, no mundo inteiro, a maior barreira à ampliação dos transplantes. No Brasil, de forma paradoxal, a violência aumenta significativamente o número de eventuais doadores. As vítimas de acidentes de trânsito e tiros com traumatismo craniencefálico possibilitariam maior oferta de órgãos.
Na prática, porém, uma série de fatores continua a limitar as cirurgias. O principal é a falta de estrutura para a captação do órgão. Outros problemas, como financiamento e critérios para estabelecer a fila única, também conspiram para tornar o transplante não uma esperança de uma vida melhor, mas um martírio.
Não se pode esperar que um país de Terceiro Mundo tenha uma medicina de Primeiro, mas algumas medidas de baixo custo como campanhas para ampliar o universo de doadores e melhor organização da distribuição podem conferir mais eficiência ao sistema como um todo.
Pessoas já morrem muito amiúde de forma tola no Brasil; se essas mortes puderem reverter em vida para outros, menos mal.


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