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CARLOS HEITOR CONY
Alhos e bugalhos
RIO DE JANEIRO - Nunca, mas nunca mesmo, a TV esteve tão poluída
por debates, por mesas-redondas, por
talk-shows e por assemelhados. E, como andei tendo uma febre que me
deixava meio zonzo, fiquei mais confuso do que confuso geralmente sou,
pois custa-me identificar se o assunto
que discutem é a Copa do Mundo ou
a seleção.
Preciso me concentrar antes de
identificar os palestrantes para saber
se são de uma ou de outra área. É lógico que uns são facilmente reconhecíveis, mas, em época congestionada
como a de agora, preciso de tempo
para corrigir o foco e ficar sabendo se
aquele cara que fala em lado esquerdo desguarnecido está se referindo à
nossa defesa no campo do futebol ou
à ausência de grandes temas socializantes no campo eleitoral.
Outro dia, lá pela madrugada,
quando todos os gatos costumam ficar pardos, nada menos que oito cidadãos desconhecidos falavam pelos
cotovelos -e o assunto podia ser comum ao futebol e à eleição. Reclamavam do ""salto alto" que poderia derrubar as esperanças não sei se do Felipão ou do Serra.
Custou-me entrar no clima. No início, pensei que o assunto fosse a seleção, que parece atravessar boa fase.
Mas um sujeito colocou uma questão
que embaralhou tudo: falou da Argentina, onde nada parece estar dando certo, e previu que o Brasil pudesse
repetir o fracasso de "erros acumulados ao longo do tempo".
A frase era ambígua, servia para as
duas hipóteses. Felizmente, um outro
palestrante ameaçou esclarecer o debate, dizendo, com autoridade aceita
genericamente pelos demais, que
ninguém deve cantar vitória antes da
hora e que ainda faltam etapas importantes.
Bem, cheguei finalmente à certeza
de que o assunto era a Copa -faltam as etapas decisivas para sagrar o
vencedor. Mas logo um outro sujeito
garantiu que, enquanto o dólar estiver alto, Lula ficará na baixa.
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