São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Trabalho social: remediar ou transformar?
ODED GRAJEW
É o caso de uma empresa que gasta mais do que vende. Em vez de tentar reduzir seus gastos e aumentar suas vendas, ela cobre seu déficit vendendo seus ativos e contraindo dívidas. Uma hora o patrimônio acaba e os credores não querem aumentar os empréstimos para não ultrapassar o limite do risco -e a empresa vai à falência (é o que aconteceu com a Argentina). Vejamos o que este modelo econômico produziu no Brasil nos últimos oito anos: a carga tributária passou de 25% para 33% do PIB, a dívida externa passou de US$ 160 bilhões para US$ 226 bilhões e a dívida interna, de R$72 bilhões para R$680 bilhões; a despesa de juros do governo passou de R$ 32 bilhões para R$80 bilhões. Aumento de impostos e alta taxa de juros, somados à abertura indiscriminada da economia, provocam baixo crescimento e desemprego. O PIB cresceu em média 2,3% ao ano, o desemprego oficial passou de 5,1% para 7,5% e a renda média do trabalhador caiu 10%. Os trabalhadores com carteira assinada passaram de 49,2% para 44,9%. A conta de juros passou a representar uma fatia cada vez maior do Orçamento, diminuindo a capacidade do governo de oferecer serviços públicos de qualidade para a população mais pobre que os usa. Desemprego, péssima distribuição de renda e falta de recursos públicos de segurança são um caldo perfeito para a violência. O número de assassinatos cresceu 29% (48% entre os jovens) e o de sequestros disparou. É bom saber que este não é o único modelo econômico possível. Vários países, entre eles todos os desenvolvidos, privilegiam a produção e o emprego, protegendo e subsidiando as empresas e os mercados locais, mantêm taxas de juros baixas, incentivam as pequenas e médias empresas, promoveram há muito tempo a reforma agrária e destinam os recursos públicos prioritariamente à população de baixa renda. Além de avaliar o modelo econômico, todo o movimento social, público e privado, deveria participar ativamente na elaboração e acompanhar a execução dos orçamentos públicos. É aí que são decididas as políticas e, principalmente, as prioridades. É a peça mais importante de qualquer organização e que, infelizmente, no Brasil, fica, na maioria das vezes, à mercê de interesses de poderosos grupos privados e políticos que nada têm a ver com interesses públicos. Debater e influir no modelo econômico e nos orçamentos públicos fará o movimento social passar do papel de quem tenta remediar a pobreza para o de quem promove mudanças nas estruturas que sustentam o modelo de exclusão social no Brasil. Oded Grajew, 58, é diretor-presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e presidente do Conselho de Administração da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Luiz Carlos Bresser Pereira: Crise a médio prazo Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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