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Fortaleza Europa
Da globalização, a UE só quer as vantagens; por elas, parece disposta a sacrificar as suas mais admiradas tradições
A DIRETIVA de Retorno
aprovada no Parlamento Europeu passa
a vigorar só em 2010,
mas já está sendo chamada de
"Diretiva da Vergonha". Ela ergue novas barreiras contra o belo
(e não muito praticado) ideal da
livre circulação de pessoas, sob
pretexto de tratar com firmeza
os imigrantes ilegais.
Na realidade, seu objetivo é
conter pela ameaça a imigração
crescente para a comunidade do
euro forte. A próxima, que já se
desenha sobre as muralhas da
Europa, será a volta dos vistos de
entrada para indesejados, entre
eles os sul-americanos.
Em aparência, o que se fez foi
padronizar procedimentos para
os 27 países-membros da União
Européia. Na prática, fica patente o endurecimento das regras. O
imigrante flagrado em situação
irregular poderá ser deportado
para seu país de origem ou qualquer outro com o qual a UE mantenha acordo de repatriação.
Emitida a ordem de expulsão,
o ilegal terá de 7 a 30 dias para
sair por iniciativa própria. Se não
o fizer, pode ser preso sem ordem judicial. A detenção poderá
prolongar-se por até 18 meses,
quando esse prazo na maioria
das nações da EU varia hoje de 1 a
12 meses. O deportado ficará impedido de entrar nos países do
bloco por cinco anos ou mais.
Os deputados europeus são políticos profissionais que, como
em qualquer parte do mundo democrático, reagem a demandas
de seus eleitores. Neste caso, cedem diante da maré montante de
chauvinismo na Fortaleza Europa, sob a pressão de um contingente estimado em 8 milhões de
imigrantes irregulares.
Quando o desemprego se torna
crônico, estrangeiros terminam
eleitos como bodes expiatórios.
Se trabalham ilegalmente, o racional seria fiscalizar e reprimir
os empregadores fora da lei. Vigiar e punir somente os mais fracos mal disfarça a tolerância com
um exército de trabalhadores de
segunda classe.
Imigrantes são em geral pessoas sem perspectivas, que abandonam suas pátrias em busca de
uma vida melhor. Fogem movidas quase sempre pela necessidade ou pelo desespero. A Europa, berço do Iluminismo e da noção de direitos universais, tinha
uma tradição de acolher deserdados e refugiados que agora se
encolhe diante do ímpeto xenófobo de parte significativa de sua
população e do populismo conservador de seus líderes.
Constitui uma ironia que a UE
hoje rejeite com zelo especial
imigrantes de países que receberam milhões de europeus pobres
no século 19, como o Brasil. Não
representa atitude diversa de
manter além de suas fronteiras,
com um sem-número de barreiras protecionistas e subsídios
iníquos, os produtos mais competitivos de antigas colônias.
Da globalização, os europeus
só querem as vantagens. Por elas,
parecem dispostos a sacrificar as
suas mais admiradas tradições.
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