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IGOR GIELOW
Caras-pintadas-de-branco
BRASÍLIA - Em agosto de 2005,
usei o termo do título acima neste
espaço para descrever a metamorfose da UNE em mais uma filial
chapa-branca de apoio ao governo
Lula. Na época, o Planalto submergia na lama do mensalão.
Passados quase quatro anos, o
comportamento da UNE em seu
congresso encerrado ontem deu
nova dimensão à observação.
Bancados pela Petrobras, os "estudantes" protestaram contra a
CPI que visa investigar a estatal. Na
palavra de seus dirigentes, uma coisa nada tem a ver com a outra, o
"petróleo é nosso" e afins. Hoje as
verbas federais se igualam à receita
das carteirinhas de estudante na
composição do cofre da UNE.
Em 2005, disse que a entidade
"jogava sua história no lixo" ao
apoiar cegamente Lula no mensalão. Talvez tenha sido generoso. Se
merece análise o seu papel na ditadura, geralmente a UNE é mais associada à campanha pelo impeachment de Fernando Collor em 1992.
O jornal britânico "The Observer" publicou uma ótima reportagem ontem sobre a mitificação ocidental da "revolução" que derrubou
o comunismo na Romênia 20 anos
atrás. Nem em Timisoara alguém
acredita hoje ter havido tal coisa.
Ceaucescu caiu em um golpe palaciano, e a vida seguiu. Mas a "revolução" ainda é comemorada.
Da mesma forma, a UNE até hoje
diz ter derrubado o presidente em
1992. Com esse aval, digamos, defende sua importância e a necessidade de ter atendidas demandas,
entre um "Fora Yeda" e outro, como a volta de algum controle sobre
emissão das carteirinhas. Sintomaticamente, propostas efetivas para
o ensino inexistem.
Collor foi a razão de ser do ressurgimento da UNE depois da ditadura. Agora, em sinal trocado, Lula
assume o posto e consolida o peleguismo da entidade. Faz mais do
que um sentido que os dois antigos
adversários se abracem por aí.
igor.gielow@grupofolha.com.br
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