São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Conselho de jornalismo
"O artigo "A ética jornalística precisa de um conselho" ("Tendências/Debates", pág. A3, 18/8), de dois dirigentes da Fenaj, passou da conta. Começou assim: "O massacre a que foi submetida proposta de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo é mais uma demonstração de que o exercício da profissão de jornalista deve se pautar pela ética e pela responsabilidade social". Mesmo escrito com duas cabeças e a quatro mãos, o artigo chove no molhado ao tentar explicar o inexplicável e ao pinçar argumentos de dar inveja à ditadura. Termina conclamando a sociedade ao debate, o que, aliás, já acontece, se os autores não perceberam. Considerando o julgamento subjacente no artigo, sinteticamente expresso no parágrafo acima reproduzido, os dirigentes da Fenaj, caso integrassem algum dos conselhos de jornalismo, certamente puniriam a quase totalidade dos jornalistas que realizaram a cobertura do tema. É de lascar, não?! Genial mesmo foi a ilustração do Orlando: um jornalista cujos "olhos" estão colados nos óculos, e não na cabeça, de onde nunca deveriam sair."
Gervásio Pozza (Piraju, SP)

 

"O texto "A ética jornalística precisa de um Conselho" é capaz de desfazer a tempestade em copo de água produzida pela discussão sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo. A proposta de criação do Conselho é posta para ser debatida. Não há tutelagem, não há proposta de modelo irretorquível. Vamos ao debate, e sem preconceitos, sem animosidade. Um governo que estimula e fomenta o Orçamento participativo, que instituiu a Controladoria Geral da União e da Transparência Governamental, entre outros expedientes democráticos e progressistas, não é merecedor de tanta intolerância e prejulgamento. Nem deve ser criminosamente comparado a um regime ditatorial e discricionário."
Messias Franca de Macedo, odontólogo e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana, BA)

Covardes quem?
"São covardes os jornalistas que defendem abertamente a liberdade de imprensa, imprescindível para a democracia? Ou são covardes os políticos autoritários que se escondem atrás de uma entidade manipulada pelo partido político deles para esmagar o que juraram defender ao tomar posse?"
Flavio Sauer Spinola Dias (Petrópolis, RJ)

Credibilidade
"Os jornalistas do mundo inteiro estão perdendo a credibilidade no meio público. A fome voraz por novas notícias e por furos sensacionais fizeram do jornalista um produtor de escândalos -e, infelizmente, nem sempre eles estão certos. E, quando isso acontece, a vida pública de quem quer que seja já está destruída. Esse foi o caso do deputado Ibsen Pinheiro, afastado da política por causa das falsas acusações a seu respeito -sem falar na Escola Base, um exemplo deplorável. Realmente eu não saberia dizer se o Conselho Federal de Jornalismo resolveria erros tão bárbaros, porque, afinal de contas, jornalistas também são passíveis de erros. Mas o maior descrédito do jornalista é esse. Eu, como leitora, fico desconfiada das reportagens acusativas, e só vou confiar na imprensa quando ela conseguir publicar o perdão em primeira página, com tanto destaque como foi a acusação. Penso que seja esse o modo de consertar os erros dentro de uma imprensa livre."
Vilma Erika Sassaki (Curitiba, PR)

Inativos
"Parabenizo o excelentíssimo senhor ministro Ayres Brito, que, apesar de nomeado pelo atual presidente da República, soube resistir às pressões do Planalto e manter a independência que caracteriza o verdadeiro magistrado ("Governo obtém vitória parcial no STF para tributar inativos", Brasil, pág. A4, 19/8)."
Daisy Sardinha Ribeiro da Silva, juíza do Trabalho aposentada (São Paulo, SP)

Esperança e medo
"Primeiro, o presidente Lula vai ao Gabão para aprender a ficar "37 anos no poder". Segundo, edita medida provisória para promover o presidente do Banco Central a ministro. Terceiro, veta o artigo da LDO que mantém o acesso dos parlamentares ao Siafi. Quarto, intitula de covardes os jornalistas que são contrários ao projeto que cria o conselho profissional. Quinto, continua irredutível na não-correção da tabela do Imposto de Renda. Certamente essas não são providências da esperança que o elegeu em 2002. Mas pode ser sinal de que o medo a venceu."
Juvenal Ferreira Fortes Filho (Rio de Janeiro, RJ)

Hediondos
"Faltou uma certa orientação jurídica e criminológica ao governador Geraldo Alckmin quando recomendou aos delegados de polícia do Estado de São Paulo que deixassem de considerar os seqüestros relâmpagos como "roubo qualificado" e passassem a tratá-lo como "crime de roubo cumulado com extorsão mediante seqüestro" (Cotidiano, 19/8). Mesmo que isso fosse possível juridicamente, um estudo aprofundado demonstraria que o que inibe a ação dos criminosos não é a quantificação abstrata da pena, e sim a certeza da punição. Tipificar tal delito como "extorsão mediante seqüestro" só para vinculá-lo à Lei de Crimes Hediondos cheira mais a propaganda eleitoral do que a política criminal."
Carlos Rosa Júnior (Santos, SP)

Juízes e professores
"O senhor Armando Navarro de Andrade ("Painel do Leitor", 18/8) foi infeliz ao dizer que o que torna uma pessoa imune à corrupção é o valor do seu contracheque. Com certeza aquele servente que encontrou uma mala recheada de dólares num aeroporto e a devolveu intacta tem, em vez de um caráter acima de qualquer suspeita, um salário de juiz, pois não se corrompeu pela vida de cidadão comum que, com certeza, leva."
Welder Valsini Calazans Medeiros (Brasília, DF)



 

"A reportagem "Salário de juízes no Brasil é dos maiores do mundo" (Brasil, 17/8) lembrou-me o editorial "Mais professores" (20/10/03), que começava assim: "O que leva alguém a querer tornar-se professor? (...) A resposta evidentemente não está no salário". Citava que professores da 1ª à 4ª série do ensino fundamental recebiam R$ 462. Os da 5ª à 8ª recebiam R$ 866. Com o reajuste de 5% concedido por Alckmin em outubro, o piso foi para R$ 726,19. O editorial comparava o salário médio de um professor de educação infantil (R$ 423) ao de um juiz (R$ 8.321) e justificava: "É claro que juízes são importantíssimos, mas alguém pode afirmar que professores não o são?". Nada a comemorar no dia 15 de outubro, Dia do Professor."
Rodolpho Pereira Lima, professor aposentado do magistério estadual (Bauru, SP)


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