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SERGIO COSTA
O ovo da serpente
RIO DE JANEIRO - As aspas abaixo foram tiradas de uma carta do
PCC apreendida pela polícia em um
presídio carioca:
"É chegada a hora de um megaevento nacional com objetivos claros
e definidos. Um megaevento que
vai beneficiar todos os presos do
Brasil, que vão sair para a rua com
uma dívida de consciência para
com o PCC e o CV (Comando Vermelho)".
"Vamos colocar a sociedade em
xeque e dividi-la ao meio. O importante é fazer a sociedade se autoquestionar e forçá-la a tomar uma
decisão de que algo tem que ser mudado para melhor em relação aos
presidiários (...). Irmãos, estamos
em época de eleição, os deputados
da oposição vão nos apoiar e demolir os governos estaduais que só
pensam em reprimir em vez de reeducar os presos(...)".
"Na rua, temos que acionar os
soldados do partido [PCC] em coligação com os soldados do CV para
seqüestrar, uns dias antes [do megaevento], deputados e senadores
do partido do governo e os que o
apóiam. Também peguem uns jornalistas e repórteres da Globo para
obrigá-los a divulgar nossas reivindicações".
Os trechos reproduzidos são de
2002, retirados da correspondência
entre um dos fundadores do PCC,
Misael Aparecido da Silva, o Misa,
preso em São Paulo, para Geleião e
Cesinha, também do PCC, e que na
época estavam em Bangu 1, no Rio.
Misa foi morto uma semana depois.
A carta foi descoberta à época pelo
tarimbado repórter policial Lúcio
Natalício, de "O Dia".
De lá para cá, polícia e governos
só fizeram chocar o ovo da serpente
ao superlotar presídios e enxugar
gelo no combate ao crime. Quatro
anos depois, só não estamos no
mesmo ponto porque o descaso geral com a segurança nos deixou pior
e até o plano de "pegar uns jornalistas da Globo" se concretizou.
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