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CLÓVIS ROSSI
Marina e a fadiga do material
SÃO PAULO - A carta em que a senadora Marina Silva explica sua decisão de deixar o PT, após 30 anos
de militância, acaba sendo o último
prego no caixão da credibilidade do
partido como porta-voz do desenvolvimento sustentável.
Diz Marina que a sua decisão
combina com "o pensamento de
milhares de pessoas no Brasil e no
mundo que há muitas décadas
apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento
material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria,
ao custo, principalmente para os
mais pobres, da destruição de
recursos naturais e da qualidade
de vida".
Como presumível candidata,
acrescenta que "faltaram condições
políticas para avançar no campo da
visão estratégica, ou seja, de fazer a
questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das
políticas públicas".
Mas a crítica ao partido de toda a
sua vida estende-se muito além dele -no que também acerta.
Diz a senadora que "é evidente
que a resistência a essa mudança de
enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos
políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair
de suas práticas insustentáveis e
pressionam as estruturas públicas
para mantê-las".
Desnecessário dizer que, se confirmada, a candidatura Marina Silva será a grande novidade em uma
campanha que parecia condenada a
repetir a já monótona e indigente
disputa PT/PSDB, velha de 15 anos,
no plano nacional, tempo suficiente
para causar pelo menos alguma
fadiga do material.
Talvez essa fadiga explique a única real novidade na pesquisa Datafolha publicada no domingo, que é a
intenção de voto em Ciro Gomes,
alta para quem não gozou da exposição de seus principais adversários
(Dilma Rousseff e José Serra) -e do
"recall" decorrente.
crossi@uol.com.br
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