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JOSÉ SARNEY
O pré-sal do gás
As coisas que acontecem no
Brasil fora do eixo São Paulo-Rio têm quase sempre uma repercussão marginal. Não são
devidamente comemoradas
como brasileiras.
Muitas vezes me perguntaram se havia um preconceito
implícito no Brasil contra o
nordestino. Eu afirmava que
era explícito. Talvez no nível
dos contra o negro e a mulher.
Meu saudoso amigo Abreu
Sodré, sempre que discutíamos o assunto, dizia-me, em
tom de brincadeira: "Nordestino, Sarney, é excelente. Todos
nós gostamos muito deles, são
grandes pedreiros, e cozinheiras não há melhores. Vocês
são injustos quando se sentem
discriminados". Já Afonso Arinos me provocava: "Presidente paulista, os parentes pedem
para ser ministro da Fazenda;
de Minas, embaixador em Paris ou em Londres; nordestino
pede para ser ascensorista em
qualquer lugar".
Ocorrem-me esses comentários diante da leniência da
mídia no trato da descoberta
da maior reserva de gás do
Brasil, metade da existente na
Bolívia, já no primeiro poço
perfurado. A potencialidade
da área é gigantesca. Vai do
delta do Parnaíba ao Cabo
Norte, fim do delta do rio Amazonas. É o pré-sal do gás.
Sempre afirmei que a pobreza do Maranhão tinha como
base terras ruins, nenhum mineral e 40% do seu território
constituído por campos alagados. Entretanto, o Criador
deu-me um bolo esmagador e
desmentiu-me.
A minha geração, há 50
anos, resolveu superar a situação de pobreza do Maranhão
existente até então com um
planejamento baseado na
criação de infraestrutura, a começar pela construção do porto do Itaqui. Este, hoje, é o segundo porto do país, com a exportação de 120 milhões de toneladas de minério de ferro e
de alumínio.
Possui também o Maranhão
uma das melhores estruturas
elétricas e de estradas do Nordeste. Avança agora como
grande produtor de soja e de
madeira -de reflorestamento- para a indústria de celulose. Já foi iniciada a construção, em Bacabeira, da maior
refinaria da Petrobras. E agora
se descobre a grande reserva
de gás, que coloca o Maranhão
no mapa mundial da energia.
Esse fato é histórico para a
consolidação da unidade nacional. É uma fonte de riqueza
fantástica ,que certamente
abre para o Norte e Nordeste
um imenso espaço para o
equilíbrio econômico do país.
O povo da região, que sempre teve a impressão de ser tratado com discriminação pelo
governo, com o presidente Lula mudou de humor, sentindo-se considerado. A descoberta
do pré-sal do gás, em terra firme, de custo baixo, reforça a
convicção de que chegou uma
nova era na região. Bom para
nós e para o Brasil. No Maranhão, esse sentimento é mais
forte, e todos sentem que demos adeus à pobreza.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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