São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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CONTRA O MUNDO

O presidente George W. Bush enviou ontem ao Congresso norte-americano uma proposta de resolução que o autoriza a utilizar "todos os meios que julgar apropriados, incluindo a força" para desarmar o Iraque e depor Saddam Hussein. O presidente da nação mais poderosa da Terra disse que os EUA vão agir por conta própria, caso o Conselho de Segurança da ONU não tome uma atitude contra Bagdá.
Não há dúvida de que Bush procura, com essa atitude, pressionar o Conselho de Segurança para que se dobre à exigência norte-americana de permitir uma ação militar para derrubar Saddam. É mais uma manifestação inequívoca do unilateralismo que tem marcado a gestão Bush. Trocando em miúdos, o que a Casa Branca está dizendo é que aceita as determinações da ONU desde que elas sejam as que os EUA querem; na hipótese inversa, a superpotência arroga-se o direito de ignorar a comunidade internacional e agir à revelia até de aliados próximos, como a França e a Alemanha.
Diversos analistas haviam afirmado que Saddam Hussein acabaria por aceitar a presença dos inspetores de armas da ONU no Iraque. Na pior das hipóteses, o ditador iraquiano ganharia tempo; na melhor, dividiria o Conselho de Segurança. O surpreendente é que a resposta dos norte-americanos a essa movimentação óbvia tenha sido o desafio aberto à ONU e não -como seria desejável- a ampliação dos esforços para encontrar uma solução diplomática.
A idéia de Bush é que a resolução seja votada pelo Congresso até o início de outubro, quando começa um recesso legislativo por causa das eleições de novembro. A perspectiva, hoje, é a de que o texto seria aprovado sem grandes dificuldades.
O que Bush pretende impor à ONU pode ser qualificado de chantagem. É possível até que a atitude tenha o efeito inverso e contribua para que o Conselho de Segurança não aprove uma nova resolução contra o Iraque. Se George W. Bush e os EUA querem a guerra, que pelo menos fiquem com o ônus de fazê-la sozinhos.



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