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CONTRA O MUNDO
O presidente George W.
Bush enviou ontem ao Congresso norte-americano uma proposta de resolução que o autoriza a
utilizar "todos os meios que julgar
apropriados, incluindo a força" para
desarmar o Iraque e depor Saddam
Hussein. O presidente da nação mais
poderosa da Terra disse que os EUA
vão agir por conta própria, caso o
Conselho de Segurança da ONU não
tome uma atitude contra Bagdá.
Não há dúvida de que Bush procura, com essa atitude, pressionar o
Conselho de Segurança para que se
dobre à exigência norte-americana
de permitir uma ação militar para
derrubar Saddam. É mais uma manifestação inequívoca do unilateralismo que tem marcado a gestão Bush.
Trocando em miúdos, o que a Casa
Branca está dizendo é que aceita as
determinações da ONU desde que
elas sejam as que os EUA querem; na
hipótese inversa, a superpotência arroga-se o direito de ignorar a comunidade internacional e agir à revelia
até de aliados próximos, como a
França e a Alemanha.
Diversos analistas haviam afirmado que Saddam Hussein acabaria
por aceitar a presença dos inspetores
de armas da ONU no Iraque. Na pior
das hipóteses, o ditador iraquiano
ganharia tempo; na melhor, dividiria
o Conselho de Segurança. O surpreendente é que a resposta dos norte-americanos a essa movimentação
óbvia tenha sido o desafio aberto à
ONU e não -como seria desejável-
a ampliação dos esforços para encontrar uma solução diplomática.
A idéia de Bush é que a resolução
seja votada pelo Congresso até o início de outubro, quando começa um
recesso legislativo por causa das eleições de novembro. A perspectiva,
hoje, é a de que o texto seria aprovado
sem grandes dificuldades.
O que Bush pretende impor à ONU
pode ser qualificado de chantagem.
É possível até que a atitude tenha o
efeito inverso e contribua para que o
Conselho de Segurança não aprove
uma nova resolução contra o Iraque.
Se George W. Bush e os EUA querem
a guerra, que pelo menos fiquem
com o ônus de fazê-la sozinhos.
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