São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A educação entre promessas e sonhos
ARNALDO NISKIER
No país das desigualdades, há um enorme abismo entre ricos e pobres em matéria de educação. Diferença que a quantidade não resolve. Universalizar sem dar qualidade à educação tem pouco efeito sobre a nossa competitividade. Tem-se feito muito pouco para melhorar o trabalho dos professores e especialistas, no país inteiro. Precisam ser mais bem formados, treinados, atualizados e remunerados de forma compatível com a dignidade humana. Mesmo com a criação do Fundef, que foi um avanço, estamos longe de uma solução à altura do problema. Até porque 20% das nossas prefeituras aplicaram equivocadamente os recursos do fundo, para não proclamar outra coisa. Aliás, vale a pena registrar que o programa de distribuição de livros (uma iniciativa louvável) teve incríveis tropeços, como o próprio reconhecimento do MEC de que um terço de 60 milhões de livros do programa Literatura em Casa jamais foi entregue aos alunos. Quem fiscaliza isso, que é proveniente do dinheiro público? Deseja-se que 20% das crianças que se encontram nas escolas públicas alcancem o sonhado tempo integral. Mas não se afirmou como. A realidade é que faltam professores em quase todas as unidades da Federação. Se não são abertos concursos, qual é a mágica que se prevê? Foi citada a sugestão de cursinhos pré-vestibulares gratuitos para alunos carentes. Idéia altamente discutível, pois o que se deseja é o aperfeiçoamento da educação básica. O cursinho é um desvio dessa preocupação e poderá servir como facilitário indesejável. Deseja-se que os recursos para educação subam de R$ 66 bilhões para R$ 93 bilhões ao ano, criando a possibilidade de evitar os malefícios da reprovação e da evasão. Pensou-se num programa de valorização dos professores, na doação de livros para alunos de nível médio, na ampliação da nossa escolaridade de seis para 12 anos, na unificação da gestão dos recursos humanos na educação, nos cuidados com a universidade pública (hoje, sucateada), no fortalecimento das escolas técnicas federais, na ampliação da assistência ao pré-escolar (mais 4 milhões de vagas), na maior atenção aos alunos deficientes, na maior participação dos empresários no processo de ensino/aprendizagem e numa articulação mais adequada entre os ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia. Algumas idéias parecem sonhos. Muitas outras não. Dependem só da vontade política dos que detiverem o poder. Arnaldo Niskier, 67, educador, é membro da Academia Brasileira de Letras e Conselheiro do Imae (Instituto Metropolitano de Altos Estudos). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Luiz Carlos Bresser Pereira: Um novo modelo Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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