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RUY CASTRO
Rombuda chulice
RIO DE JANEIRO - Na sexta-feira, o
presidente Lula afirmou ao iG que
não permitirá que "façam sacanagem com Dilma". Queria dizer, talvez, que não permitirá que as trapalhadas da ex-ministra Erenice
Guerra, omitindo informações e favorecendo parentes em transações
obscuras, sofram exploração eleitoral de modo a prejudicar sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff,
ex-chefa de Erenice.
Em sua simplicidade linguística,
Lula não deve saber que, por maior
o relaxamento da língua e dos costumes, "sacanagem" é uma rombuda chulice, imprópria na boca de
um presidente da República. Até os
anos 70, "fazer sacanagem" significava... "fazer sacanagem". Não era
uma expressão aceitável sequer em
jornal -nem o "Pasquim" a usava-, quanto mais na presença de
senhoras. Exceto, claro, em situações de extrema intimidade com as
ditas senhoras.
Tudo bem, a língua acompanha
os costumes e, com o tempo, as palavras perdem ou ganham conteúdos. Na primeira metade do século
20, não se chamava ninguém de
"chato", mesmo que o alguém em
questão fosse chatérrimo e usasse
galocha. Chato era apenas aquele
piolho chegado às virilhas. Um sujeito chato era um sujeito "cacete",
veja só, e nenhuma mulher se ruborizava ao ouvir esta palavra.
"Sacanagem" foi uma das últimas expressões do chulo a ganhar
ingresso na língua de salão. Hoje,
seu sentido original só conserva um
certo eco para os maiores de 60 ou
70 anos. Mas, até em consideração
a estes, deveria continuar interditado em alguns círculos. Não é algo
que um presidente devesse dizer ao
microfone, ainda mais para se referir a uma mulher. Revela grossura.
Mas, se há uma coisa pela qual Lula
nunca quis se passar foi fino, não?
A "sacanagem" com Dilma já foi
feita - por sua auxiliar de confiança, Erenice Guerra. Ou, então, a sacanagem está em ter se deixado
apanhar.
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