São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A ousadia da inovação

ABRAM SZAJMAN


O Instituto da Economia Criativa tem a proposta de difundir a ideia de que a arte pode emprestar o pensamento criativo para os negócios


O governo trabalhista inglês adotou, na década de 1990, entre outras políticas públicas, o conceito de "economia criativa"", que mereceu até mesmo ministério próprio. O ponto de partida dessa nova vertente para o desenvolvimento está na constatação de que, na sociedade do conhecimento e da tecnologia informatizada, tornaram-se obsoletos os padrões de produtividade baseados exclusivamente na formação acadêmica e na repetição mecânica de tarefas, típicos do fordismo industrial.
No momento em que as conquistas da ciência e da técnica encurtaram a distância entre o trabalho manual e intelectual, o que diferencia um trabalhador de outro, uma empresa de outra e até mesmo um país de outro não é apenas o conhecimento formal, medido em títulos e anos de escolaridade.
A diferença está no uso criativo do saber para gerar valor. Em outras palavras, trata-se da utilização da criatividade humana e do patrimônio cultural de que todas as comunidades são dotadas como meio para gerar renda, de forma alinhada com as questões ambientais.
A economia criativa encontrou campo fértil nos setores vinculados aos direitos autorais, marcas, patentes e design. Depois, somaram-se outros grupos de atividades, tais como publicidade, software, artesanato, patrimônio histórico e turismo cultural.
No Brasil, surge em 2005 o Instituto da Economia Criativa, com a proposta de ir além e permear os diversos segmentos produtivos com a ideia de que a arte pode emprestar o pensamento criativo para os negócios e organizações empresariais.
No setor de comércio e serviços, em que predominam pequenas e microempresas-menos preocupadas com vínculos hierárquicos e mais abertas às novas ideias-, já vigora em larga medida o conceito fundamental da economia criativa: o de inovação como valor percebido e como um meio de chegar ao coração do consumidor ou cliente, obtendo seu reconhecimento para o produto ou serviço oferecido.
Desenvolver o lado criativo e inovador do trabalhador, entretanto, é tarefa que se situa além da educação formal. As escolas dos países desenvolvidos, e até as dos emergentes, formam excelentes técnicos que, no mais das vezes, não são dotados da criatividade necessária para a solução dos problemas práticos omitidos pelos manuais.
Também não preparam o futuro profissional para assumir os riscos inerentes a qualquer inovação.
Por essa razão, além da necessidade imperiosa de incorporar ao ensino matérias relacionadas com a criatividade, tem tanta importância o papel de entidades como o Sesc (Serviço Social do Comércio), ao tratarem a cultura como ferramenta complementar e inseparável da educação.
O fundamental, porém, para fazer do Brasil um país que se vale da criatividade ao pavimentar o caminho de seu futuro reside na ousadia das empresas em estimular seus funcionários a pensar e agir além dos limites e convenções, a inovar, como artistas, em vez de repetir, como burocratas.
Todos nós temos algum pendor artístico e, como atesta o poeta Ferreira Gullar, "a arte existe porque a vida não basta". O empregado deve dispor na empresa da mesma liberdade criativa que faz de nossas escolas de samba um empreendimento bem-sucedido e admirado no mundo todo.

ABRAM SZAJMAN empresário, é presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), dos conselhos regionais do Sesc (Serviço Social do Comércio), do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).


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