São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

O lado certo

RIO DE JANEIRO - Tanto no Congresso como na mídia está em discussão uma legislação que possa punir os abusos (ou os crimes) praticados na ou pela internet. A nudez da atriz Scarlett Johansson está sendo considerada uma invasão da privacidade a que todos temos direito. E há casos mais escabrosos, como acessos a contas bancárias, pornografia infantil etc. Pergunta: uma lei resolverá o problema?
Tenho minhas dúvidas. Existem leis para tudo e para todos, elas dependem não apenas da fiscalização policial ou judicial, mas da interpretação que damos a elas. Já citei, há tempos, o caso de Gulliver, personagem da obra-prima de Jonathan Swift, e o cito de novo porque o assunto continua atual.
Náufrago, Gulliver caiu numa terra de anões belicosos, os liliputianos, que o tornaram prisioneiro e que mantinham uma guerra de 800 anos com anões de outra região. Devido a seu tamanho, foi obrigado a lutar por um dos lados, e vendo tantas barbaridades, perguntou ao rei a quem era obrigado a servir o motivo de luta tão feroz e selvagem.
O rei explicou que o povo dele, ao tomar o café da manhã, cortava os ovos pela parte de cima, a mais pontiaguda, e os inimigos cortavam os ovos pela parte de baixo, a mais arredondada. Gulliver ouviu, pensou, pensou outra vez e perguntou ao rei se não havia uma lei, um decreto, uma legislação que determinasse a questão, estabelecendo de uma vez para sempre a maneira de todos cortarem os ovos.
O rei ficou espantado e respondeu: "Somos civilizados. Evidente que há uma lei que regulamenta o assunto". Gulliver quis saber o que a tal lei dizia e o rei, em tom solene, majestático, informou: "O primeiro artigo de nossa Constituição diz claramente que os ovos devem ser cortados pelo lado certo".


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