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LÍNGUA PARA INGLÊS VER
A incorporação da língua inglesa
pelos idiomas nativos dos mais diversos países não é novidade. Traduz, no âmbito da linguagem, uma
hegemonia que os EUA consolidaram desde a década de 50. Com a globalização e o encurtamento da distância entre as nações obtido pelo
avanço dos meios de comunicação, a
contaminação das demais línguas
pelo inglês ficou ainda mais patente.
O fenômeno não é em si mesmo nocivo. Pode até enriquecer um idioma
ao permitir que se incorporem informações vindas de fora que ainda não
têm correspondência local. A Internet é um exemplo nesse sentido.
Outra coisa, porém, bem diferente,
é o uso gratuito de palavras em inglês
como o que se verifica hoje no Brasil.
A não ser pela vocação novidadeira
-e caipira- de quem se deslumbra
diante de qualquer coisa que as aproxime do "estrangeiro", não há nenhuma razão para que se diga "sale" no lugar de liquidação ou qualquer motivo para falar "off" em vez
de desconto. Tais anomalias são um
dos sintomas do subdesenvolvimento e exprimem, no seu ridículo involuntário, a mentalidade de quem
confunde modernidade com uma
temporada de férias em Miami.
Um país como a Alemanha, menos
vulnerável à influência da colonização da língua inglesa, discute hoje
uma reforma ortográfica para "germanizar" expressões estrangeiras, o
que já é regra na França. O risco de se
cair no nacionalismo tosco e na xenofobia é evidente.
Não é preciso, porém, agir como
Policarpo Quaresma, personagem de
Lima Barreto, que queria transformar o tupi em língua oficial do Brasil
para recuperar o instinto de nacionalidade. No Brasil de hoje já seria um
avanço se as pessoas passassem a
usar, entre outros exemplos, a palavra "entrega" em vez de "delivery".
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