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CLÓVIS ROSSI
Hipótese maldita
SÃO PAULO - Pelo menos na sabatina desta Folha, na quarta-feira, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muitíssimo mais sensato que
alguns dos pitbulls que o cercam ao
admitir que, se o dinheiro para a
compra do dossiê tiver saído de sua
campanha, ele terá que pagar o preço, porque caracterizar-se-ia "crime eleitoral". Punível com a impugnação da candidatura.
Nessa hipótese, requerê-la não
seria "golpismo", mas mero cumprimento da lei, a que todos estão
sujeitos, inclusive o presidente da
República.
A sensatez de Lula não impede,
no entanto, constatar o tremendo
imbróglio a ser gerado, a começar
pela pergunta óbvia: o Brasil é suficientemente sólido do ponto de vista institucional para suportar a decapitação de um presidente recém-reeleito?
É importante saber que, nessa hipótese, não entra Geraldo Alckmin,
mas será convocada nova eleição
direta, a qual Lula não poderá concorrer. Se o afastamento do presidente se der na segunda metade do
mandato, a eleição será indireta
(pelo Congresso Nacional).
A hipótese de que o caso se arraste por dois anos ou mais não é descabelada, não. Fernando Rodrigues
lembra que Ronivon Santiago, sobre o qual pesavam evidências contundentes, manteve o mandato por
três anos.
Tudo somado, há o risco de que a
maldição do segundo mandato, de
que tanto se falou, seja mais maldita do que jamais se imaginou.
No noticiário sobre a sabatina
desta Folha com o presidente, faltou registrar uma promessa (ou
"ameaça", ao gosto do freguês) feita
quando os gravadores já estavam
desligados ou sendo desligados:
"Vou encher a paciência de vocês
de tanto dar entrevistas" [no eventual segundo mandato]. Paciência
não foi exatamente a palavra empregada, mas vale o registro.
crossi@uol.com.br
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