São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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FERNANDO RODRIGUES

"W."

NOVA YORK - O público aplaudiu quando acabou o filme "W." no final da tarde de sábado num cinema da rua 32. As salas estiveram lotadas por toda a cidade.
O filme de Oliver Stone sobre trajetória de George W. Bush estreou no fim de semana. Assemelha-se a outras incursões do diretor pela vida de ex-presidentes dos EUA -"JFK" (91) e "Nixon" (95). Há muita licença poética, um pouco de teoria da conspiração e escassa sustentação dos fatos. É entretenimento, não historiografia.
A diferença agora é o biografado ainda ocupar a Casa Branca. A mão de Stone esteve mais leve. Fez algum efeito. Bush termina inspirando mais pena do que ódio.
A abordagem cuidadosa só não elimina cenas constrangedoras. Entre a decisão de um bombardeio e outro, o homem mais poderoso do mundo fica sozinho assistindo a futebol americano na TV, comendo salgadinhos com seu cachorro. Deprimido ao saber da inexistência de armas de destruição de massa no Iraque, conversa com sua mulher no quarto. Laura Bush tenta animá-lo e promete... comprar ingressos para o musical "Cats", a peça de teatro favorita de W.
Tony Blair, o ex-primeiro-ministro britânico, surge como um apatetado na tela. Condoleezza Rice é só uma dedicada bajuladora. Infantil, Bush anuncia orgulhoso ter parado de comer sobremesa. Quer expressar solidariedade aos soldados em guerra. Cristão renascido, comanda um momento de silêncio ao final de suas reuniões ministeriais. Cabeças abaixadas, todos colocam as mãos sobre a mesa. Rezam. A cena se repete depois de decidirem bombardear o Iraque.
Apesar de sua moderação, "W." é uma pedrada. Lançado em 2.030 salas de cinema, decerto não ajuda o republicano John McCain. Já para o democrata Barack Obama, a 15 dias da eleição presidencial, o filme chega no momento ideal.

frodriguesbsb@uol.com.br


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