|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
"W."
NOVA YORK - O público aplaudiu
quando acabou o filme "W." no final
da tarde de sábado num cinema da
rua 32. As salas estiveram lotadas
por toda a cidade.
O filme de Oliver Stone sobre trajetória de George W. Bush estreou
no fim de semana. Assemelha-se a
outras incursões do diretor pela vida de ex-presidentes dos EUA
-"JFK" (91) e "Nixon" (95). Há
muita licença poética, um pouco de
teoria da conspiração e escassa sustentação dos fatos. É entretenimento, não historiografia.
A diferença agora é o biografado
ainda ocupar a Casa Branca. A mão
de Stone esteve mais leve. Fez algum efeito. Bush termina inspirando mais pena do que ódio.
A abordagem cuidadosa só não
elimina cenas constrangedoras.
Entre a decisão de um bombardeio
e outro, o homem mais poderoso do
mundo fica sozinho assistindo a futebol americano na TV, comendo
salgadinhos com seu cachorro. Deprimido ao saber da inexistência de
armas de destruição de massa no
Iraque, conversa com sua mulher
no quarto. Laura Bush tenta animá-lo e promete... comprar ingressos
para o musical "Cats", a peça de teatro favorita de W.
Tony Blair, o ex-primeiro-ministro britânico, surge como um apatetado na tela. Condoleezza Rice é só
uma dedicada bajuladora. Infantil,
Bush anuncia orgulhoso ter parado
de comer sobremesa. Quer expressar solidariedade aos soldados em
guerra. Cristão renascido, comanda
um momento de silêncio ao final de
suas reuniões ministeriais. Cabeças
abaixadas, todos colocam as mãos
sobre a mesa. Rezam. A cena se repete depois de decidirem bombardear o Iraque.
Apesar de sua moderação, "W." é
uma pedrada. Lançado em 2.030
salas de cinema, decerto não ajuda
o republicano John McCain. Já para o democrata Barack Obama, a 15
dias da eleição presidencial, o filme
chega no momento ideal.
frodriguesbsb@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Paradoxos de Marta Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: O tatu ataca Índice
|