|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
A cueca do Suplicy
SÃO PAULO - Além de país da piada pronta, agora somos o país da
piada ao contrário: o "Pânico na
TV" decidiu proteger Eduardo Suplicy de si mesmo. A pedido do senador, o programa humorístico exibido domingo à noite concordou
em retirar do ar a cena em que ele,
vestindo uma cueca vermelha sobre
o terno, corria imitando o Super-Homem pelo salão azul do Senado.
O espírito cívico de Sabrina Sato e
sua turma deu chance para que o
corregedor da Casa, Romeu Tuma,
se apressasse em fazer aquilo de
que mais gosta: arquivar investigações contra os colegas. Salvo também pelo "Pânico", o xerife, desta
vez, foi poupado de vexame maior.
Sim, porque a cena de Suplicy
com a cueca vermelha é obviamente ridícula e inadequada, mas sugerir, no Senado de José Sarney, dos
atos secretos e dos compadrios descarados, que brincar de Super-Homem configure quebra de decoro
parece -aí sim- piada de salão.
Não será se agarrando ao moralismo mais tacanho que os senadores irão reparar seu notório descaso
pela moralidade pública. E não foi
por causa dos talentos artísticos de
Suplicy que o Congresso -e em
particular o Senado- se tornou parada obrigatória do "Pânico".
De resto, é muito ilustrativo dos
hábitos machistas que vários dos
marmanjos eleitos ali se prestem ao
papel de assistentes de palco de Sabrina Sato, desempenhando sorridentes diante das câmeras os números mais lamentáveis.
Suplicy, nesse aspecto, se beneficia da fama de sonso. Há quem o
considere uma presa fácil da mídia,
mas também quem aponte sua habilidade para atrair as atenções sobre si. Em qualquer caso, o senador
do PT lembra uma criança grande.
Ele talvez seja o Brás Cubas do
Senado. A renda mínima é seu emplastro, sua ideia fixa, o brinquedo
da sua vida. Da cueca às políticas
públicas, tudo parece se infantilizar
e assumir feições lúdicas nas mãos
de Suplicy. Deixemos Eduardinho
brincar de super-herói com sua
amiguinha. Que mal há nisso?
Texto Anterior: Editoriais: A Aneel nada fez
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O joio e o trigo Índice
|