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MARCOS NOBRE
Pós-jabuticaba
AS GLÓRIAS nacionais costumavam ser ou colossais
-como Brasília- ou do gênero trivial simples -como o paraense (sorvete de tapioca e de
açaí). E, até pouco tempo, as opiniões costumavam se dividir entre
quem exaltava a jabuticaba (que
só existe no Brasil) e quem não perdia a chance de exercitar o sarcasmo contra o jeca que exaltava a
jabuticaba.
A euforia das comemorações pela escolha do Rio como sede da
Olimpíada de 2016 foi qualificada
de "nacionalista". Como se fosse
uma espécie de comemoração de
massa da obtenção pelo país do selo de confiabilidade econômica do
"grau de investimento", ocorrido
há um ano e meio. Produziu também desconforto e reação na mesma medida. Afinal, o Brasil não
dormiu Cidade de Deus e acordou
Suécia.
Mas não é mais disso que se trata. É a alternativa pró- ou anti-jabuticabismo que está desaparecendo. Depois de subir alguns degraus
no concerto das nações (como se
dizia no tempo da jabuticaba), o
Brasil começa a comemorar um
nacional-internacionalismo inédito. O discurso continua sendo chamado de nacionalista, principalmente no que diz respeito ao governo Lula. Mas já não tem mais
nada que ver com o que se chamou
de nacionalismo até pelo menos o
final dos anos 1980.
O nacionalismo econômico, por
exemplo, tem como principal desafio hoje internacionalizar as empresas brasileiras. O objetivo é
criar um banco específico para financiar essa internacionalização,
nos moldes do Eximbank dos EUA.
Quando se quer valorizar um artista, diz-se que ele é simplesmente
artista e que ter nascido ou morar
no Brasil é um detalhe biográfico
tão importante ou secundário
quanto qualquer outro. O Panorama da Arte Brasileira, atualmente
em exposição no Museu de Arte
Moderna em São Paulo, conta apenas com uma artista brasileira. Os
28 nomes restantes são de estrangeiros que, de alguma forma, "dialogam" com o Brasil em suas obras.
O que importa no ser brasileiro é
ser planetário, seja a mercadoria
uma obra de arte ou outra qualquer. A atual euforia nacionalista
não está ligada a uma suposta brasilidade, mas a uma sensação de
que o Brasil conta no mundo, de
que o Brasil está inserido no mapa.
É isso o que se passou a dizer há
já algum tempo de um artista como
Hélio Oiticica. É alguém que desbravou caminhos que só viriam a
ser trilhados por outros artistas
tempos depois, alguém que estava
inserido em uma rede, integrado a
um circuito internacional.
Mas nem por isso a jabuticaba
desapareceu. Acervos culturais
preciosos continuam em mãos de
particulares. E pegam fogo.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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