São Paulo, terça-feira, 20 de outubro de 2009

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MARCOS NOBRE

Pós-jabuticaba

AS GLÓRIAS nacionais costumavam ser ou colossais -como Brasília- ou do gênero trivial simples -como o paraense (sorvete de tapioca e de açaí). E, até pouco tempo, as opiniões costumavam se dividir entre quem exaltava a jabuticaba (que só existe no Brasil) e quem não perdia a chance de exercitar o sarcasmo contra o jeca que exaltava a jabuticaba.
A euforia das comemorações pela escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016 foi qualificada de "nacionalista". Como se fosse uma espécie de comemoração de massa da obtenção pelo país do selo de confiabilidade econômica do "grau de investimento", ocorrido há um ano e meio. Produziu também desconforto e reação na mesma medida. Afinal, o Brasil não dormiu Cidade de Deus e acordou Suécia.
Mas não é mais disso que se trata. É a alternativa pró- ou anti-jabuticabismo que está desaparecendo. Depois de subir alguns degraus no concerto das nações (como se dizia no tempo da jabuticaba), o Brasil começa a comemorar um nacional-internacionalismo inédito. O discurso continua sendo chamado de nacionalista, principalmente no que diz respeito ao governo Lula. Mas já não tem mais nada que ver com o que se chamou de nacionalismo até pelo menos o final dos anos 1980.
O nacionalismo econômico, por exemplo, tem como principal desafio hoje internacionalizar as empresas brasileiras. O objetivo é criar um banco específico para financiar essa internacionalização, nos moldes do Eximbank dos EUA.
Quando se quer valorizar um artista, diz-se que ele é simplesmente artista e que ter nascido ou morar no Brasil é um detalhe biográfico tão importante ou secundário quanto qualquer outro. O Panorama da Arte Brasileira, atualmente em exposição no Museu de Arte Moderna em São Paulo, conta apenas com uma artista brasileira. Os 28 nomes restantes são de estrangeiros que, de alguma forma, "dialogam" com o Brasil em suas obras. O que importa no ser brasileiro é ser planetário, seja a mercadoria uma obra de arte ou outra qualquer. A atual euforia nacionalista não está ligada a uma suposta brasilidade, mas a uma sensação de que o Brasil conta no mundo, de que o Brasil está inserido no mapa.
É isso o que se passou a dizer há já algum tempo de um artista como Hélio Oiticica. É alguém que desbravou caminhos que só viriam a ser trilhados por outros artistas tempos depois, alguém que estava inserido em uma rede, integrado a um circuito internacional.
Mas nem por isso a jabuticaba desapareceu. Acervos culturais preciosos continuam em mãos de particulares. E pegam fogo.

nobre.a2@uol.com.br


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.

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