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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Macunaíma 2º
SÃO PAULO - Lula foi reeleito demonizando o conservadorismo liberal e privatista do adversário tucano. Vendeu o crescimento que
não entregou no primeiro mandato
como bandeira do segundo. O jogo
nem começou e já está claro que o
presidente mais uma vez blefava.
Ninguém no governo sabe como
fazer para crescer 5% ao ano. E o
que nos chega agora dos corredores
do poder são discussões preocupadas sobre a necessidade de cortar
gastos, estancar o déficit da Previdência, ampliar a fatia das receitas
da União que não precisa ser destinadas à saúde e à educação etc.
Está configurado o cenário para
mais um estelionato. Em 2003, Lula e o PT também não tinham idéia
do que fazer com o país. O conservadorismo econômico refletiu menos uma estratégia convicta de governo do que um esforço de autopreservação no poder. E foi o crescimento pífio decorrente dessa política levada com a barriga que, ironicamente, acabou amplificando os
efeitos distributivos do aumento do
salário mínimo e do bolsa-esmolão.
O abismo entre o que o candidato
promete e o eleito realiza não é uma
invenção deste governo. Quase
sempre a política funciona assim.
No caso de Lula, porém, esse descompasso revela uma questão de
fundo: o presidente é um Macunaíma -ou Zelig, o homem-camaleão,
conforme a boa definição do jornalista Merval Pereira em coluna no
jornal "O Globo" desta semana.
Esperto e instintivo, Lula dá a impressão de sempre estar a serviço
de si mesmo. Personalidade errática e sem convicções, é capaz de se
adaptar com desenvoltura ímpar a
qualquer situação e de agradar às
mais diferentes platéias. Ele não arbitra conflitos -os dissolve, sem resolvê-los, na cordialidade brasileira, entendida, conforme quis Sérgio
Buarque, como tradução do personalismo e das relações de favor.
Lula, "o presidente de todos", é
hoje menos o portador da esperança e muito mais o fiador político do
equilíbrio instável sobre o qual repousam as iniqüidades do país.
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