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Dinheiro pelo ralo
A ÁGUA tende a tornar-se um
bem escasso. Em escala
global, já chega a 1 bilhão o
número de pessoas com acesso
precário a esse recurso. Com o
aumento populacional, haverá
demanda crescente e poluição
das fontes hídricas. Especialistas
imaginam até mesmo a ocorrência de conflitos armados na disputa por nascentes.
O Brasil, com 12% das reservas
de água doce do planeta, é provavelmente o país mais bem servido nesse quesito. A forma como
estamos administrando tais recursos, porém, é indecorosa.
Levantamento do Instituto Socioambiental com dados do Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento relativos a
2004 mostra que quase a metade
(45%) da água retirada dos mananciais do país e tratada não
chega de forma regular ao consumidor. A principal causa são os
vazamentos na rede (65%), mas
ligações clandestinas e falhas nos
hidrômetros também contribuem. Em Porto Velho (RO), o
desperdício chega a 78,8%.
Técnicos consideram aceitáveis para o Brasil índices entre
15% e 20%, embora haja países
que operam com cifras menores.
No Japão, a evasão é de 4%.
A água escoando pelo ralo é
apenas a face visível da crise que
afeta as empresas de saneamento. Reduzir o desperdício exigiria
investimentos pesados na rede.
Mas, com perdas de receita da
ordem de 45%, as companhias
têm mais dificuldade de capitalizar-se para investir. Esse quadro,
já desolador, é agravado ainda
por um marco regulatório confuso, que não deixa claro se são Estados ou municípios que detêm o
poder de fazer concessões na
área de saneamento.
Resolver essa questão e atingir
níveis "civilizados" de desperdício é não apenas um imperativo
econômico como também um
dever moral num mundo em que
as fontes de água potável se tornam cada vez mais preciosas.
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