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Editoriais
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Consciência negra
COM EXCEÇÃO dos setores
mais comprometidos na
luta contra a desigualdade racial, o Dia da Consciência Negra, que se comemora
hoje, tende a ser visto mais como
um feriado (em 700 municípios)
entre outros, do que como uma
oportunidade para a reflexão.
É verdade que, nos últimos
anos, cresceu a importância dos
movimentos voltados para a afirmação da identidade e dos direitos de afrodescendentes no Brasil. Com efeitos positivos, de forma geral, sua ação redundou
também, muitas vezes, num discurso que separa brancos e negros. Mas o lema da "consciência
negra" não deveria ser interpretado de forma exclusivista: diz
respeito a todos os brasileiros.
A presença africana na sociedade brasileira não se mede pela
análise dos genomas e não se limita aos exemplos tão repetidos
de influência na música, na culinária, nos cultos religiosos.
Assim como a defesa dos direitos humanos é uma questão universal, a "consciência negra" é
uma questão de identidade nacional, e não racial.
Sob esse aspecto, a "consciência negra" ainda é incipiente no
Brasil. A extrema variedade das
culturas africanas mal começa a
fazer parte dos currículos escolares. A figura contraditória de
Zumbi, cuja morte hoje completa 314 anos, reduz-se a uma efígie
e a uma perplexidade.
Mais do que uma palavra de ordem particularista, o que está em
jogo na "consciência negra" é um
legado de várias culturas africanas e um presente de originalidade e descoberta, cujo desconhecimento, num país como o
Brasil, só nos empobrece.
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