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FERNANDO DE BARROS E SILVA
"Tropa de Elite" pelo avesso
SÃO PAULO - Capitão Nascimento
esfrega o rosto do jovem estudante
no peito ensanguentado do traficante que acabou de matar. Puxa o
garoto pelo cabelo e dispara:
"Quem matou esse cara foi você,
seu merda! É você que financia essa
merda aqui! Seu maconheiro, seu
merda! A gente vem aqui para desfazer a merda que você faz!".
Essa é uma das cenas mais emblemáticas de "Tropa de Elite", o
primeiro. Seu equivalente em "Tropa de Elite 2" talvez seja a surra épica que coronel Nascimento dá no
secretário da Segurança Pública, tipo que encarna o político corrupto.
Entre um esculacho e outro, há
uma inversão de perspectiva: no
primeiro filme, quem sai desmoralizada é a mentalidade progressista. São os estudantes, que exercitam, por meio de uma ONG na favela, suas boas intenções sociais, mas
que alimentam, ao mesmo tempo, a
cadeia do tráfico, consumindo e fazendo o pequeno comércio de maconha e cocaína na universidade.
"Tropa 1" denuncia a cumplicidade
entre a polícia corrupta e o esquerdismo chic de certa classe média.
Em "Tropa 2", a responsabilidade se desloca e a culpa se dilui numa categoria ao mesmo tempo
abrangente e abstrata -ela agora
"é do sistema". Nascimento repete
o mantra típico da antiga esquerda.
O filme, de início, opõe o policial
durão ao intelectual militante dos
direitos humanos. O desenvolvimento do enredo, no entanto, vai
dissipando a clivagem entre direita
e esquerda, até colocá-los lado a lado, numa luta do bem contra o mal,
combatendo contra "o sistema".
Do tráfico para a corrupção, dos
traficantes para as milícias, dos estudantes para o poder político -os
vilões mudaram. José Padilha 2 parece prestar contas à patrulha que
acusava "Tropa" de "fascismo".
O revisionismo operado pelo diretor, no entanto, não resulta num
filme ruim, pelo contrário, nem
abala a identificação profunda do
público com a figura truculenta de
Nascimento, um policial torturador
e psicopata, porém honesto.
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